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English to Portuguese: "Long Live the Vortex!" (Wyndham Lewis) General field: Art/Literary Detailed field: Poetry & Literature
Source text - English LONG LIVE THE VORTEX!
Long live the great art vortex sprung up in the centre of this town!
We stand for the Reality of the Present--not for the sentimental Future, or the sacripant Past.
We want to leave Nature and Men alone.
We do not want to make people wear Futurist Patches, or fuss men to take to pink and sky-blue trousers.
We are not their wives or tailors.
The only way Humanity can help artists is to remain independent and work unconsciously.
WE NEED THE UNCONSCIOUSNESS OF HUMANITY-their stupidity, animalism and dreams.
We believe in no perfectibility except our own.
Intrinsic beauty is in the Interpreter and Seer, not in the object or content.
We do not want to change the appearance of the world, because we are not Naturalists, Impressionists or Futurists (the latest form of Impressionism), and do not depend on the appearance of the world for our art.
WE ONLY WANT THE WORLD TO LIVE, and to feel it’s crude energy flowing through us.
It may be said that great artists in England are always revolutionary, just as in France any really fine artist had a strong traditional vein.
Blast sets out to be an avenue for all those vivid and violent ideas that could reach the Public in no other way.
Blast will be popular, essentially. It will not appeal to any particular class, but to the fundamental and popular instincts in every class and description of people, TO THE INDIVIDUAL. The moment a man feels or realizes himself as an artist, he ceases to belong to any milieu or time. Blast is created for this timeless, fundamental Artist that exists in everybody.
The Man in the Street and the Gentleman are equally ignored.
Popular art does not mean the art of the poor people, as it is usually supposed to. It means the art of the individuals.
Education (art education and general education) tends to destroy the creative instinct. Therefore it is in times when education has been non-existant that art chiefly flourished.
But it is nothing to do with ‘‘ the People.”
It is a mere accident that that is the most favourable time for the individual to appear.
To make the rich of the community shed their education skin, to destroy politeness standardization and academic, that is civilized, vision, is the task we have set ourselves.
We want to make in England not a popular art, not a revival of lost folk art, or a romantic fostering of such unactual conditions, but to make individuals, wherever found.
We will convert the King if possible.
A VORTICIST KING! WHY NOT?
DO YOU THINK LLOYD GEORGE HAS THE VORTEX IN HIM?
MAY WE HOPE FOR ART FROM LADY MOND?
We are against the glorification of ‘‘ the People,” as we are against snobbery. It is not necessary to be an outcast bohemian, to be unkempt or poor, any more than it is necessary to be rich or handsome, to be an artist. Art is nothing to do with the coat you wear. A top-hat can well hold the Sixtine. A cheap cap could hide the image of Kephren.
AUTOMOBILISM (Marinetteism) bores us. We don’t want to go about making a hullo-bulloo about motor cars, anymore than about knives and forks,
elephants or gas- pipes.
Elephants are VERY BIG. Motor cars go quickly.
Wilde gushed twenty years ago about the beauty of machinery. Gissing, in his romantic delight with modern lodging houses was futurist in this sense.
The futurist is a sensational and sentimental mixture of the aesthete of 1890 and the realist of 1870.
The ‘‘Poor” are detestable animals! They are only picturesque and amusing for the sentimentalist or the romantic! The “Rich” are bores without a single xception, en tant que riches!
We want those simple and great people found everywhere.
Blast presents an art of Individuals.
Translation - Portuguese LONGA VIDA AO VORTEX!
Longa vida ao grande vortex da arte que surgiu no centro desta cidade!
Nós representamos a Realidade do Presente – não o Futuro sentimental, ou o Passado sacripanta.
Nós queremos deixar a Natureza e o Homem em paz.
Nós não queremos forçar as pessoas a usarem Emblemas Futuristas, ou chateá-los para que usem calças cor-de-rosa ou azúis-claras.
Não somos as suas esposas ou alfaiates.
A única maneira da Humanidade ajudar os artistas é manter-se independente e trabalhar inconscientemente.
NÓS PRECISAMOS DA INCONSCIÊNCIA DA HUMANIDADE – a sua estupidez, o seu animalismo e os seus sonhos.
Nós não acreditamos em nenhum aperfeiçoamento além do nosso.
A beleza intrínseca está no Intérprete e no Vidente, não no objecto ou no conteúdo.
Nós não queremos mudar a aparência do mundo, porque não somos Naturalistas, Impressionistas ou Futuristas (a mais recente forma de Impressionismo), e não dependemos da aparência do mundo para criarmos a nossa arte.
APENAS QUEREMOS QUE O MUNDO VIVA, e sentir a sua energia crua a fluir em nós.
Pode dizer-se que os grandes artistas em Inglaterra são sempre revolucionários, tal como em França qualquer artista de renome tinha uma forte veia tradicional.
A Blast procura ser uma avenida para todas aquelas ideias vívidas e violentas que não têm outra forma de chegar ao Público.
A Blast será popular, essencialmente. Não apelará a uma classe em particular, mas aos intintos populares e fundamentais de cada classe e descrição de pessoas, AO INDIVÍDUO. No momento em que um homem sente ou se visualiza como um artista, deixa de pertencer a uma qualquer época ou meio. A Blast foi criada para o artista intemporal e fundamental que existe em cada um.
O Homem na Rua e o Aristocrata são ignorados em igual medida.
A arte Popular não se refere à arte dos pobres, como é frequentemente suposto. Refere-se à arte dos indivíduos.
A educação (educação nas artes e educação em geral) tende a destruir o instinto criativo. Assim, é nas alturas em que a educação é inexistente que a arte se sobressai.
Mas nada tem a ver com as “Pessoas.”
É por mero acidente que essa é a melhor altura para o indivíduo surgir.
Para fazer a riqueza da comunidade despir a sua pele da educação, para destruir a padronização académica e educada, que é civilizada, visão, é a tarefa que determinamos para nós próprios.
Nós não queremos fazer da Inglaterra arte popular, nem um renascer do folclore perdido, ou uma fomentação romântica de tais condições não actuais, mas criar indivíduos, onde quer que os encontremos.
Nós converteremos o Rei, se possível.
UM REI VORTICISTA! PORQUE NÃO?
ACHAM QUE LLOYD GEORGE TEM O VORTEX NELE?
PODEMOS ESPERAR PELA ARTE DA LADY MOND?
Nós somos contra a glorificação das “Pessoas”, já que somos contra o que é snobe. Não é necessário ser-se um boémio marginalizado, ser-se desleixado ou pobre, mais do que é necessário ser-se rico ou belo, ser-se um artista. A arte nada tem a ver com a túnica que vestem. Uma cartola pode bem ostentar uma Sistina. Um boné barato pode esconder a imagem de Kephren.
O AUTOMOBILISMO (Marinetteísmo) entedia-nos. Não queremos fazer dos carros motorizados algo de extraordinário, mais do que queremos fazer das facas e garfos, elefantes ou condutas de gás.
Os elefantes são MUITO GRANDES. Os carros motorizados são rápidos.
Wilde pregou, há vinte anos, sobre a beleza das máquinas. Aclamava, no seu deleite romântico com os alojamentos modernos, ser futurista, de certa forma.
O futurista é uma mistura sensacional e sentimental do estético de 1890 e do realista de 1870.
Os “Pobres” são animais detestáveis! Eles apenas são pitorescos e cómicos para o sentimentalista ou o romântico! Os “Ricos” são enfadonhos sem qualquer execpção, en tant que riches!
Nós queremos essas pessoas simples e grandes que estão em toda a parte.
A Blast apresenta um arte de Indivíduos.
Spanish to Portuguese: [EXCERPT] "Soldados de Salamina" (Javier Cercas) General field: Art/Literary Detailed field: Poetry & Literature
Source text - Spanish Fue en el verano de 1994, hace ahora más de seis años, cuando oí hablar por primera vez del fusilamiento de Rafael Sánchez Mazas. Tres cosas acababan de ocurrir me por entonces: la primera es que mi padre había muer¬to; la segunda es que mi mujer me había abandonado; la tercera es que yo había abandonado mi carrera de escri¬tor. Miento. La verdad es que, de esas tres cosas, las dos primeras son exactas, exactísimas; no así la tercera. En realidad, mi carrera de escritor no había acabado de arrancar nunca, así que difícilmente podía abandonarla. Más justo sería decir que la había abandonado apenas iniciada. En 1989 yo había publicado mi primera novela; como el con¬junto de relatos aparecido dos años antes, el libro fue aco¬gido con notoria indiferencia, pero la vanidad y una rese¬ña elogiosa de un amigo de aquella época se aliaron para convencerme de que podía llegar a ser un novelista y de que, para serlo, lo mejor era dejar mi trabajo en la redac¬ción del periódico y dedicarme de lleno a escribir. El resultado de este cambio de vida fueron cinco años de angustia económica, física y metafísica, tres novelas inacabadas y una depresión espantosa que me tumbó durante dos meses en una butaca, frente al televisor.
(…)
Pasó el tiempo. Empecé a olvidar la historia. Un día de principios de febrero de 1999, el año del sesenta ani¬versario del final de la guerra civil, alguien del periódico sugirió la idea de escribir un artículo conmemorativo del final tristísimo del poeta Antonio Machado, que en enero de 1939, en compañía de su madre, de su hermano José y de otros cientos de miles de españoles despavoridos, empujado por el avance de las tropas franquistas huyó desde Barcelona hasta Collioure, al otro lado de la fronte¬ra francesa, donde murió poco después. El episodio era muy conocido, y pensé con razón que no habría periódi¬co catalán (o no catalán) que por esas fechas no acabara evocándolo, así que ya me disponía a escribir el consabi¬do artículo rutinario cuando me acordé de Sánchez Mazas y de que su frustrado fusilamiento había ocurrido más o menos al mismo tiempo que la muerte de Machado, sólo que del lado español de la frontera. Imaginé entonces que la simetría y el contraste entre esos dos hechos terribles —casi un quiasmo de la historia— quizá no era casual y que, si conseguía contarlos sin pérdida en un mismo artículo, su extraño paralelismo acaso podía dotarlos de un significado inédito. Esta superstición se afianzó cuando, al empezar a documentarme un poco, di por casualidad con la historia del viaje de Manuel Machado hasta Collioure, poco des¬pués de la muerte de su hermano Antonio. Entonces me puse a escribir. El resultado fue un artículo titulado «Un secreto esencial». Como a su modo también es esencial para esta historia, lo copio a continuación:
«Se cumplen sesenta años de la muerte de Antonio Machado, en las postrimerías de la guerra civil. De todas las historias de aquella historia, sin duda la de Machado es una de las más tristes, porque termina mal. Se ha con¬tado muchas veces. Procedente de Valencia, Machado llegó a Barcelona en abril de 1938, en compañía de su ma¬dre y de su hermano José, y se alojó primero en el Hotel Majestic y luego en la Torre de Castañer, un viejo palacete situado en el paseo de Sant Gervasi. Allí siguió haciendo lo mismo que había hecho desde el principio de la guerra: defender con sus escritos al gobierno legítimo de la Repú¬blica. Estaba viejo, fatigado y enfermo, y ya no creía en la derrota de Franco; escribió: "Esto es el final; cualquier día caerá Barcelona. Para los estrategas, para los políticos, para los historiadores, todo está claro: hemos perdido la guerra. Pero humanamente, no estoy tan seguro... Quizá la hemos ganado". Quién sabe si acertó en esto último; sin duda lo hizo en lo primero. La noche del 22 de enero de 1939, cuatro días antes de que las tropas de Franco tomaran Barcelona, Machado y su familia partían en un convoy hacia la frontera francesa. En ese éxodo alucina¬do los acompañaban otros escritores, entre ellos Corpus Barga y Carles Riba. Hicieron paradas en Cerviá de Ter y en Mas Faixat, cerca de Figueres. Por fin, la noche del 27, después de caminar seiscientos metros bajo la lluvia, cruzaron la frontera. Se habían visto obligados a abando¬nar sus maletas; no tenían dinero. Gracias a la ayuda de Corpus Barga, consiguieron llegar a Collioure e instalarse en el hotel Bougnol Quintana. Menos de un mes más tarde moría el poeta; su madre le sobrevivió tres días. En el bolsillo del gabán de Antonio, su hermano José halló unas notas; una de ellas era un verso, quizás el primer verso de su último poema: "Estos días azules y este sol de la infancia".
»La historia no acaba aquí. Poco después de la muer¬te de Antonio, su hermano el poeta Manuel Machado, que vivía en Burgos, se enteró del hecho por la prensa extranjera. Manuel y Antonio no sólo eran hermanos: eran íntimos. A Manuel la sublevación del 18 de julio le sorprendió en Burgos, zona rebelde; a Antonio, en Madrid, zona republicana. Es razonable suponer que, de haber estado en Madrid, Manuel hubiera sido fiel a la República; tal vez sea ocioso preguntarse qué hubiera ocurrido si Antonio llega a estar en Burgos. Lo cierto es que, apenas conoció la noticia de la muerte de su herma¬no, Manuel se hizo un salvoconducto y, tras viajar duran¬te días por una España calcinada, llegó a Collioure. En el hotel supo que también su madre había fallecido. Fue al cementerio. Allí, ante las tumbas de su madre y de su her¬mano Antonio, se encontró con su hermano José. Habla¬ron. Dos días más tarde Manuel regresó a Burgos.
»Pero la historia —por lo menos la historia que hoy quiero contar— tampoco acaba aquí. Más o menos al mismo tiempo que Machado moría en Collioure, fusilaban a Rafael Sánchez Mazas junto al santuario del Collell. Sánchez Mazas fue un buen escritor; también fue amigo de José Antonio, y uno de los fundadores e ideólogos de Falange. Su peripecia en la guerra está rodeada de miste¬rio. Hace unos años, su hijo, Rafael Sánchez Ferlosio, me contó su versión. Ignoro si se ajusta a la verdad de los hechos; yo la cuento como él me la contó. Atrapado en el Madrid republicano por la sublevación militar, Sánchez Mazas se refugió en la embajada de Chile. Allí pasó gran parte de la guerra; hacia el final trató de escapar camufla¬do en un camión, pero le detuvieron en Barcelona y, cuando las tropas de Franco llegaban a la ciudad, se lo lle¬varon camino de la frontera. No lejos de ésta se produjo el fusilamiento; las balas, sin embargo, sólo lo rozaron, y él aprovechó la confusión y corrió a esconderse en el bosque. Desde allí oía las voces de los milicianos, acosándo¬le. Uno de ellos lo descubrió por fin. Le miró a los ojos. Luego gritó a sus compañeros: "¡Por aquí no hay nadie!". Dio media vuelta y se fue.
»"De todas las historias de la Historia", escribió Jaime Gil, "sin duda la más triste es la de España, / porque ter¬mina mal." ¿Termina mal? Nunca sabremos quién fue aquel miliciano que salvó la vida de Sánchez Mazas, ni qué es lo que pasó por su mente cuando le miró a los ojos; nunca sabremos qué se dijeron José y Manuel Machado ante las tumbas de su hermano Antonio y de su madre. No sé por qué, pero a veces me digo que, si con¬siguiéramos desvelar uno de esos dos secretos paralelos, quizá rozaríamos también un secreto mucho más esen¬cial».
Quedé muy satisfecho del artículo.
(…)
—¿Y qué es un héroe?
La pregunta pareció sorprenderle, como si nunca se la hubiese hecho, o como si se la hubiera estado haciendo desde siempre; con la taza en el aire, me miró fugazmente a los ojos, volvió la vista hacia la bahía, por un momen¬to reflexionó; luego se encogió de hombros.
—No lo sé —dijo—. Alguien que se cree un héroe y acierta. O alguien que tiene el coraje y el instinto de la virtud, y por eso no se equivoca nunca, o por lo menos no se equivoca en el único momento en que importa no equivocarse, y por lo tanto no puede no ser un héroe. O quien entiende, como Allende, que el héroe no es el que mata, sino el que no mata o se deja matar. No lo sé. ¿Qué es un héroe para ti?
Para entonces ya hacía casi un mes que yo no pensa¬ba en Soldados de Salamina, pero en aquel momento no pude evitar el recuerdo de Sánchez Mazas, que no mató nunca y que en algún momento, antes de que la realidad le demostrara que carecía del coraje y del instinto de la virtud, acaso se creyó un héroe. Dije:
—No lo sé. John Le Carré dice que hay que tener tem¬ple de héroe para ser una persona decente.
—Sí, pero una persona decente no es lo mismo que un héroe —replicó en el acto Bolaño—. Personas decentes hay muchas: son las que saben decir no a tiempo; héroes, en cambio, hay muy pocos. En realidad, yo creo que en el comportamiento de un héroe hay casi siempre algo ciego, irracional, instintivo, algo que está en su naturaleza y a lo que no puede escapar. Además, se puede ser una persona decente durante toda una vida, pero no se puede ser su¬blime sin interrupción, y por eso el héroe sólo lo es excepcionalmente, en un momento o, a lo sumo, en una temporada de locura o inspiración. Ahí está Allende, hablando por Radio Magallanes, tumbado en el suelo en un rincón de La Moneda, con la metralleta en una mano y el micrófono en la otra, hablando como si estuviera borracho o como si ya estuviera muerto, sin saber muy bien lo que dice y diciendo las palabras más limpias y más nobles que yo he escuchado nunca... Ahora me acuerdo de otra historia. Ocurrió en Madrid hace tiempo, yo la leí en la prensa. Un muchacho andaba por una calle del cen¬tro y de pronto vio una casa envuelta en llamas. Sin encomendarse a nadie entró en la casa y sacó en brazos a una mujer. Volvió a entrar y esta vez sacó a un hombre. Luego entró otra vez y sacó a otra mujer. A esas alturas del incendio ya ni siquiera los bomberos se atrevían a entrar en la casa, era un suicidio; pero el muchacho debía de saber que todavía quedaba alguien adentro, porque entró de nuevo. Y, claro, ya no volvió a salir. —Bolaño se detuvo, con el dedo índice se subió las gafas hasta que la montura rozó las cejas—. Brutal, ¿no? Bueno, pues yo no estoy seguro de que ese muchacho actuase movido por la compasión, o por vete a saber qué buen sentimiento; yo creo que actuaba por una especie de instinto, un instin¬to ciego que lo superaba, que podía más que él, que obra¬ba por él. Lo más probable es que ese muchacho fuera una persona decente, no digo que no; pero puede no haberlo sido. Chucha, Javier, ni falta que le hacía: el cabrón era un héroe.
(…)
—Mire, Cercas —empezó luego—. ¿O tengo que lla¬marle señor Cercas?
—Llámeme Javier.
—Bueno, pues Javier. ¿Sabe usted cuántos años acabo de cumplir? Ochenta y dos. Soy un hombre mayor y estoy cansado. Tuve una mujer y ya no la tengo. Tuve una hija y ya no la tengo. Todavía me estoy recuperando de una embolia. No me queda mucho tiempo, y lo único que quiero es que me dejen vivirlo en paz. Créame: esas historias ya no le interesan a nadie, ni siquiera a los que las vivimos; hubo un tiempo en que sí, pero ya no. Alguien decidió que había que olvidarlas y, ¿sabe lo que le digo?, lo más probable es que tuviera razón; además, la mitad son mentiras involuntarias y la otra mitad mentiras voluntarias. Usted es joven; créame que le agradezco su llamada, pero lo mejor es que me haga caso, se deje de tonterías y dedique su tiempo a otra cosa.
Translation - Portuguese Foi no verão de 1994, faz agora mais de seis anos, que ouvi falar pela primeira vez no fuzilamento de Rafael Sánchez Mazas. Três coisas acabam de ocorrer-me: a primeira é que o meu pai estava morto; a segunda é que a minha mulher me tinha abandonado; a terceira era que eu tinha abandonado a minha carreira de escritor. Minto; a verdade é que, dessas três coisas, as duas primeiras são exactas, exactíssimas – a terceira nem tanto. Na verdade, a minha carreira de escritor não tinha sequer sido iniciada, logo dificilmente a poderia abandonar. Seria mais justo dizer que a tinha deixado apenas por iniciar. Em 1989, tinha publicado o meu primeiro romance; como o conjunto de relatos que surgiram dois anos antes, o livro foi acolhido com notória indiferença, mas a vaidade e uma resenha elogiosa de um amigo daquela época aliaram-se para me convencer que poderia chegar a ser um romancista e que, para sê-lo, o melhor seria deixar o meu trabalho na redacção do jornal e dedicar-me à escrita a tempo inteiro. O resultado desta mudança de vida foram cinco anos de angústia económica, física e metafísica, três romances inacabados e uma espantosa depressão que me atirou durante dois anos para uma poltrona, diante do televisor.
(…)
O tempo foi passando e comecei a esquecer a história. Um dia, em princípios de Fevereiro de 1999, ano do sexagésimo aniversário do fim da guerra civil, alguém do jornal me sugeriu a ideia de escrever um artigo comemorativo do final tristíssimo do poeta Antonio Machado, que, em Janeiro de 1939, na companhia da sua mãe, do seu irmão José e de centenas de milhares de espanhóis espavoridos, empurrado pela avalanche de tropas franquistas, fugiu desde Barcelona até Collioure, do outro lado da fronteira francesa, onde morreu pouco depois. O episódio era muito conhecido e pensei, com razão, que não haveria jornal catalão (ou não catalão) que por esta data não acabasse por invocá-lo, pelo que já me tinha disposto a escrever o dito artigo rotineiro quando me lembrei de Sánchez Mazas e de que o seu fuzilamento tinha ocorrido mais ou menos ao mesmo tempo que a morte de Machado – só que do lado espanhol da fronteira. Imaginei, então, que a simetria e o contraste entre essas duas terríveis ocorrências – quase um quiasmo da história – talvez não fossem coincidência e que, se conseguisse conta-los sem nenhuma falha num mesmo artigo, o seu estranho paralelismo talvez pudesse dotá-los de um significado inédito. Esta superstição consolidou-se quando, ao começar a documentar-me um pouco, dei por acaso com a história da viagem de Manuel Machado até Collioure, pouco depois da morte do seu irmão Antonio. Pus-me, então, a escrever e o resultado foi um artigo intitulado “Um segredo essencial”. Como, à sua maneira, também é essencial para esta história, transcrevo-o a seguir:
“Cumprem-se sessenta anos da morte de Antonio Machado, nos últimos tempos da guerra civil. De todas as histórias daquela história, sem dúvida que a de Machado é uma das mais tristes porque termina mal. Já foi contada muitas vezes; proveniente de Valência, Machado chegou a Barcelona em Abril de 1938, na companhia da sua mãe e do seu irmão José, e ficou alojado, primeiro, no Hotel Majestic e, depois, na Torre de Castañer, um velho palacete situado na avenida de Sant Gervasi. Ali, continuou a fazer o mesmo que fazia desde o início da guerra: defender, através dos seus escritos, o governo legítimo da República. Estava velho, cansado e doente, e já não acreditava na derrota de Franco; escreveu: ‘Isto é o final; qualquer dia, Barcelona cairá. Para os estrategas, para os políticos, para os historiadores, está tudo bem claro: perdemos a guerra. Mas, humanamente, não estou tão seguro disso… Talvez a tenhamos ganho’. Quem sabe se acertou neste último ponto – não há dúvida de que o fez no primeiro. Na noite de 22 de Janeiro de 1939, quatro dias antes das tropas de Franco tomarem Barcelona, Machado e a sua família partiam numa caravana até à fronteira francesa. Neste êxodo alucinado, acompanhavam-nos outros escritores, entre eles Corpus Barga e Carles Riba. Pararam em Cervià de Ter e em Mas Faixat, perto de Figueres. Finalmente, na noite do dia 27, depois de caminhar seiscentos metros debaixo de chuva, cruzaram a fronteira. Viram-se obrigados a abandonar as suas malas; não tinham dinheiro. Graças à ajuda de Corpus Barga, conseguiram chegar a Collioure e instalar-se no hotel Bougnol Quintana. Menos de um mês mais tarde, morria o poeta; a sua mãe sobreviver-lhe-ia três dias. No bolso do sobretudo de Antonio, o seu irmão José encontrou umas notas – uma delas um verso, talvez o primeiro verso do seu último poema: ‘Estes dias azuis e este sol da infância’.
A história não acaba aqui. Pouco depois da morte de Antonio, o seu irmão – o poeta Manuel Machado –, que vivia em Burgos, soube o que tinha acontecido pela imprensa estrangeira. Manuel e Antonio não eram apenas irmãos; eram íntimos. Manuel foi surpreendido pela revolução de 18 de Julho em Burgos, zona rebelde; Antonio, por sua vez, fora-o em Madrid, zona republicana. É razoável supor que, por ter estado em Madrid, Manuel teria sido fiel à República; talvez seja escusado perguntar o que teria acontecido se Antonio chega a estar em Burgos. O mais certo é que, mal soube da notícia da morte do seu irmão, Manuel arranjou um livre-trânsito e, após viajar durante dias por uma Espanha calcinada, chegou a Collioure. No hotel, soube que também a sua mãe tinha falecido. Foi ao cemitério e ali, diante das sepulturas da sua mãe e do seu irmão Antonio, encontrou-se com o seu irmão José. Falaram e, dois dias depois, Manuel regressou a Burgos.
Mas a história – pelo menos, a história que hoje quero contar – ainda não acaba aqui. Mais ou menos ao mesmo tempo em que Machado morria em Collioure, fuzilavam Rafael Sánchez Mazas junto ao santuário do Collell. Sánchez Mazas foi um bom escritor; foi, também, amigo de José Antonio, e um dos fundadores e ideólogos de Falange . A sua perícia na guerra está envolta em mistério. Há uns anos, o seu filho, Rafael Sánchez Ferlosio, contou-me a sua versão dos factos. Desconheço se se corresponde à verdade dos factos; conto-a como ele ma contou. Preso numa Madrid republicana devido à revolução militar, Sánchez Mazas refugiou-se na embaixada do Chile. Passou ali grande parte da guerra e, perto do final, tentou escapar camuflado num camião, mas detiveram-no em Barcelona e, quando as tropas de Franco chegavam à cidade, levaram-no em direcção à fronteira. Não longe desta deu-se o fuzilamento; as balas, no entanto, apenas o roçaram e ele aproveitou a confusão para correr e esconder-se no bosque. Dali, ouvia as vozes dos recrutas, lançando-lhe acusações. Um deles encontrou-o, por fim. Olhou-o nos olhos e gritou para os seus companheiros: ‘Aqui não está ninguém!’. Deu meia volta e foi-se embora.
‘De todas as histórias da História’, escreveu Jaime Gil, ‘sem dúvida que a mais triste é a de Espanha, / porque termina mal.’ Termina mal? Nunca saberemos quem foi aquele recruta que salvou a vida de Sánchez Mazas nem o que lhe passou pela cabeça quando o olhou nos olhos; nunca saberemos o que disseram José e Manuel Machado um ao outro, diante das sepulturas do seu irmão Antonio e da sua mãe. Não sei porquê, mas digo a mim próprio que, se conseguíssemos resolver um desses segredos paralelos, talvez alcançássemos também um segredo muito mais essencial”.
Fiquei muito satisfeito com o artigo.
(…)
– E o que é um herói?
A pergunta pareceu surpreende-lo, como se nunca a tivesse feito ou como se a tivesse estado a fazer desde sempre; com a chávena no ar, olhou-me nos olhos fugazmente, voltou o olhar para a baía, reflectiu por momentos e, depois, encolheu os ombros.
– Não sei – disse –. Alguém que se acha um herói e está certo. Ou alguém que tem a coragem e o instinto da virtude e, por isso, nunca se engana ou, pelo menos, não se engana no único momento em que importa não se enganar e, assim sendo, não pode não ser um herói. Ou quem entende, como Allende, que o herói não é o que mata, mas sim o que não mata ou se deixa matar. Não sei; o que é, para ti, um herói?
Até então, já fazia quase um mês que não pensava em Soldados de Salamina, mas, naquele momento, não consegui evitar a memória de Sánchez Mazas, que nunca matou e que, em algum momento – e antes da realidade lhe demonstrar que carecia de coragem e do instinto da virtude, acreditou ser um herói. Disse:
– Não sei. John Le Carré diz que há que ter índole de herói para ser uma pessoa decente.
– Sim, mas uma pessoa decente não é o mesmo que um herói – respondeu, de imediato, Bolaño –. Pessoas decentes há muitas: são as que sabem dizer não a tempo; heróis, por outro lado, há muito poucos. Na verdade, acho que há quase sempre algo no comportamento de um herói que é cego, irracional, instintivo; algo que está na sua natureza e do qual não pode escapar. Além disso, é possível ser-se uma pessoa decente durante toda uma vida, mas não se pode ser sublime sem interrupção e, por isso, o herói só o é excepcionalmente, momentaneamente ou, no máximo, numa época de loucura ou inspiração. Aí está Allende, falando pela Radio Magallanes , caído a um canto no chão de La Moneda com a metralhadora numa mão e o microfone na outra, falando como se estivesse bêbado ou como se já estivesse morto, sem saber muito bem o que diz e dizendo as palavras mais limpas e mais nobres que alguma vez ouviu… Lembrei-me, agora, de outra história; passou-se em Madrid há algum tempo, li-a no jornal. Um rapaz estava a andar por uma rua no centro e viu, imediatamente, uma casa em chamas. Sem pensar duas vezes, entrou na casa e trouxe uma mulher em braços. Voltou a entrar e, desta vez, trouxe um homem. Entrou mais uma vez e trouxe outra mulher. A essa altura do incêndio, já nem os bombeiros se atreviam a entrar na casa, era suicídio; mas o rapaz devia saber que ainda estava alguém lá dentro porque entrou mais uma vez. E, claro, já não voltou a sair. – Bolaño deteve-se e, com o dedo indicador, levantou os óculos até a armação lhe roçar as sobrancelhas. – Brutal, não? Bem, eu não estou certo de que esse rapaz actuasse movido pela compaixão ou por sabe-se lá que outro bom sentimento; eu acho que actuou por uma espécie de instinto, um instinto cego que o superava, que podia mais do que ele, que obrava por ele. O mais provável é que esse rapaz fosse uma pessoa decente, não digo que não; mas pode não o ter sido. Porra, Javier, nem era preciso: o cabrão era um herói.
(…)
– Olhe, Cercas – começou logo –. Ou tenho de trata-lo por “senhor Cercas”?
– Trate-me por Javier.
– Bem, Javier. Sabe quantos anos acabo de cumprir? Oitenta e dois. Sou um homem idoso e estou cansado. Tive uma mulher e já não a tenho. Tive uma filha e já não a tenho. Ainda estou a recuperar de uma embolia. Não me resta muito tempo e a única coisa que quero é que mo deixem viver em paz. Acredite: essas histórias já não interessam a ninguém, nem sequer a nós, que as vivemos; houve um tempo em que nos interessavam, mas já não. Alguém resolveu que era preciso esquecê-las – e sabe o que lhe digo? O mais provável é que tivesse razão; além disso, metade dessas histórias são mentiras involuntárias e a outra metade são mentiras voluntárias. Você é jovem; acredite que agradeço a chamada, mas o melhor é que ouça o que lhe digo, deixe-se de disparates e dedique o seu tempo a outra coisa.
Portuguese to English: "Consumos Festivos da Cultura Popular: Os concursos de painéis de barcos moliceiros" (Clara Sarmento, Ph.D) General field: Social Sciences Detailed field: Social Science, Sociology, Ethics, etc.
Source text - Portuguese Os processos de representação e celebração do objecto etnográfico têm vindo a ser reconstruídos sob formas úteis aos poderes políticos, económicos e culturais, radicando no consumo recreativo desse mesmo objecto etnográfico. Este passa a ser produzido tendo em vista o consumo popular externo, numa vertente lúdico-cultural centrífuga, voltada para o público em geral e para o turista em particular. Uma tendência muito distante da original produção para utilização imediata, num contexto de subsistência económica restrita, centrípeta, no interior de uma comunidade geográfica, económica e culturalmente (de)limitada.
O barco moliceiro, enquanto objecto etnográfico, insere-se actualmente numa estrutura lúdica simbólica, resultante de um longo processo de negociação política, social e económica. Nessa estrutura enquadra-se a já referida reinvenção das festividades do S. Paio da Torreira, com toda a supervisão e intervenção das instituições sobre esta prática originalmente popular. No entanto, nas festividades do S. Paio, o elemento popular – figura motriz ou, mais tarde, simples figurante – é inerente tanto à génese como à concretização regular do evento. Mas outras “tradições” existentes em torno do barco moliceiro são construídas de raiz por entidades de elite ou institucionais, originando eventos e objectos para consumo externo alargado, directo ou simbólico, com respectivo rendimento político, económico e social.
Encontram-se nesta categoria os concursos de painéis de barcos moliceiros. Ao contrário do que a retórica oficial fazia (e faz ainda) supor, trata-se, na realidade, de uma tradição completamente artificial, criada em pleno século XX pelas autoridades locais e que apenas faz um uso restrito do elemento popular. Este tem como função construir o objecto, submetê-lo à avaliação superior e aceitar reconhecidamente a recompensa devida à sua participação no ritual. Por sua vez, o público visado é menos a comunidade local do que as entidades convidadas, a imprensa e os visitantes nacionais e estrangeiros.
A necessidade de domesticar e reconstruir as tradições populares esteve na origem da censura imposta à romaria do S. Paio da Torreira e seus banhos de vinho à imagem do Santo, na década de quarenta. Posteriormente, o programa das festividades é adulterado pouco a pouco, com a inclusão de concursos de gado, regatas de embarcações desportivas, provas de natação e até mesmo de uma tourada, como sucede actualmente. Na década de cinquenta, inicia-se, por sua vez, a construção da tradição dos concursos de painéis de barcos moliceiros.
Nestas circunstâncias, e ao contrário de outras festividades populares tradicionais, o concurso de painéis de barcos moliceiros decorre originalmente em Aveiro, sede das autoridades criadoras e supervisoras. Só muito mais tarde, já na última década do século XX, é que concursos semelhantes se multiplicarão pela Ria de Aveiro, com réplicas locais na Torreira, Quintas do Norte e outras localidades.
É na reunião ordinária da Comissão Municipal de Turismo de Aveiro de 9 de Novembro de 1953, que o vogal e Capitão do Porto de Aveiro, Carlos Ferreira Pinto Basto Carreira, propõe, com imediata aprovação, a instituição de um prémio pecuniário para “um concurso de barcos ‘moliceiros’ organizado com o intuito de estimular os proprietários dos barcos a conservar o costume de apresentar as prôas e rés com os característicos painéis polícromos. Este concurso deverá realizar-se, em principio, no dia 25 de Março de cada ano na altura da tradicional Feira dos Barcos” . A Feira dos Barcos, durante a Feira de Março, era, como o próprio nome indica, um momento privilegiado para a concentração das embarcações tradicionais em pleno Canal Central de Aveiro. No Fundo Documental do Jornal O Século, do Arquivo de Fotografia de Lisboa, encontram-se registos fotográficos da Feira dos Barcos datados de 1941 e 1950, portanto cronologicamente próximos do primeiro concurso de painéis, onde se destacam os mercantéis e os moliceiros alinhados frente à entrada para o recinto da Feira.
Nos decénios compreendidos entre 1944 e 1953 e entre 1954 e 1963, a frequência de novos registos de moliceiros estava, com efeito, a diminuir, por comparação com o anterior decénio de 1934-1943. Esta proposta do Capitão do Porto de Aveiro, a entidade mais próxima do processo de registo e aprovação das novas embarcações, traduzirá uma eventual preocupação pela crise que se adivinha na construção naval tradicional e, em particular, na construção, pintura e manutenção de barcos moliceiros. No entanto, e como foi já apontado, a sequência dos acontecimentos indiciará também uma simultânea ou imediatamente posterior vertente ideológica subjacente à concretização do evento.
Os prémios pecuniários para os painéis mais sugestivos foram fixados em 500$00, 300$00 e 200$00, respectivamente para o primeiro, segundo e terceiro lugares, e o júri deste primeiro concurso, a realizar às 15.00 horas do dia 25 de Março de 1954, foi constituído pelo Presidente da Câmara Municipal de Aveiro (Albano da Silva Sampaio), Director do Museu Regional (Alberto Souto), Director do Porto de Aveiro (João Ribeiro Coutinho de Lima), Capitão do Porto de Aveiro (Carlos Augusto Ferreira Pinto Basto Carreira), Presidente da Comissão Municipal de Turismo (Arnaldo Estrela Santos) e dois Vogais desta Comissão (Eduardo Silva Cerqueira e Carlos Aleluia) . Como se vê, trata-se exclusivamente de autoridades locais, com cargos administrativos e políticos, sem conhecimento ou prática efectiva do quotidiano popular da região lagunar nem da indústria artesanal do moliço e da construção naval.
Uma vez realizado o evento, a acta da reunião da Comissão Municipal de Turismo enumera os vencedores e descreve sucintamente os painéis premiados:
Como já se tinha comunicado realizou-se o “Concurso de Barcos Moliceiros” cujos prémios foram atribuidos, por unanimidade, aos três primeiros que se apresentaram com as prôas mais sugestivas, e que foram classificados pela ordem seguinte: 1º prémio, Esc: 500$00, foi atribuído ao “moliceiro”, com as respectivas alfaias, inscrito sob o número 2, pertencente a Mestre Joaquim Raimundo, da Murtosa, que foi feito de propósito para este certame, com as legendas seguintes: Na prôa: - “Espera-me no campo”, e ainda um militar e Mocidade Portuguesa. Na ré: “Vendes o meu peixinho” e “Só quero tua rosa”; 2º prémio, Esc: 300$00, foi atribuído ao “moliceiro”, também novo, com as respectivas alfaias, inscrito sob o nº 1, pertencente a José Bernardino da Silva Paiva, da Murtosa, com as legendas seguintes: Na prôa: - Um militar. Na ré: “O guarda amoroso” (cão) e um cavalo; 3º prémio, Escudos 200$00, foi atribuído ao “moliceiro”, usado, inscrito sob o nº 5, pertencente a Gonçalo Maria da Silva Pita, da Murtosa, com as legendas seguintes: Na prôa: - Um casal: “É muito minha”. Na ré: cavaleiro e dama e “O fiscal do moliço”. Dado o êxito com que decorreu o referido concurso resolveu-se repeti-lo no próximo ano, estudando-se oportunamente a possibilidade de aumentar os prémios.
Por vezes, o termo “prôa” é utilizado para designar indiscriminadamente os painéis da embarcação, quer estes sejam da proa quer da ré. No entanto, como se depreende do texto e também da proposta que originou o concurso, todos os painéis são avaliados e premiados. A presença de “um militar e Mocidade Portuguesa” num dos painéis vencedores é atípica e possui óbvias implicações ideológicas. Os demais painéis premiados situam-se claramente no contexto rural e lagunar (“Espera-me no campo”, “Vendes o meu peixinho” e “O fiscal do moliço”), com figuras humanas e animais ligadas ao quotidiano popular e apontamentos jocosos necessariamente velados, como “Só quero tua rosa” e “É muito minha”.
O Fundo Documental d’O Século possui uma imagem deste primeiro concurso, datada de Março de 1954 e designada “Aspecto da ria, vendo-se ao centro os três Moliceiros classificados no concurso da Feira dos Barcos, durante a Feira de Março”. Este precioso testemunho mostra a multidão concentrada no cais para admirar as embarcações. No entanto, dado o ângulo distante da fotografia, os painéis vencedores são praticamente imperceptíveis, apesar de ser possível verificar que os painéis da ré estão tão profusamente decorados como os da proa, e que dois deles enquadram a cena retratada dentro de molduras em campânula.
As primeiras actas denotam alguma preocupação com a narração minuciosa do evento. Regista-se se a embarcação foi construída propositadamente para o concurso, como sucedeu com o moliceiro vencedor, ou se se trata de um “moliceiro usado”, uma vez que o objectivo do evento é tanto a construção como a manutenção das embarcações. Contudo, os vencedores são tendencialmente moliceiros novos.
É interessante notar que o concurso recompensa os proprietários e não os construtores ou pintores dos moliceiros, mantendo à letra o objectivo fundador, expresso na reunião de Novembro de 1953: “estimular os proprietários dos barcos a conservar o costume de apresentar as prôas e rés com os característicos painéis polícromos”. Pontualmente, dá-se o caso de o proprietário ser simultaneamente o construtor, como no caso do vencedor desta primeira edição, o célebre Mestre Joaquim “Raimundo”, da Murtosa. O segundo classificado, José Bernardino da Silva Paiva, pertence a uma família de construtores e proprietários da Murtosa, mas não se localiza qualquer registo de embarcações por si construídas. Já Gonçalo Maria da Silva Pita, também da Murtosa, figura nos registos da Capitania exclusivamente como proprietário, ao longo da década de cinquenta. O próprio texto limita-se a enfatizar que o moliceiro em causa é “pertencente a” (e não “construído” ou “pintado por”), pelo que se conclui que o interesse primordial reside na recompensa – e incentivo – da propriedade e não da origem. Esta prioridade sintoniza-se com a orientação geral do regime, para quem os agentes dos diversos processos de produção são secundários, face aos proprietários desses mesmos meios de produção e respectivos produtos. Estes são transaccionados e rentabilizados sem ter em conta os agentes e as circunstâncias a montante. Só quando a produção se confunde com a propriedade é que o “construtor-proprietário” tem direito ao prémio. Para tal, o construtor tem que ser obrigatoriamente proprietário, mas o inverso não ocorre. Também não se localiza nenhuma referência a eventuais pintores-não-construtores, contratados especificamente para a decoração da embarcação.
Os proprietários devem “apresentar as prôas e rés com os característicos painéis polícromos”, objectivo claramente vocacionado para o exterior, para a exibição de uma prática cultural passível de exploração rentável, em sectores já distantes da simples construção naval artesanal ou da recolha de moliço. Por tal, o texto da acta de Abril de 1954 termina com a decisão: “Dado o êxito com que decorreu o referido concurso resolveu-se repeti-lo no próximo ano, estudando-se oportunamente a possibilidade de aumentar os prémios”.
Com efeito, em 1955, verifica-se uma alteração no valor pecuniário dos prémios, com o segundo classificado a receber 400$00, devido à introdução de um quarto premiado. Mestre Joaquim “Raimundo” é de novo o construtor-proprietário vencedor, com outro “moliceiro novo”. Uma fotografia pertencente à Imagoteca Municipal de Aveiro guarda o momento da entrega deste primeiro prémio. No ano seguinte, Mestre Raimundo será apenas terceiro classificado, com a vitória a pertencer, desta vez, a um “moliceiro restaurado” de José Maria Gonçalves Lamego, de Ovar. Nem todos os premiados constam de forma inequívoca dos registos actualmente disponíveis nos arquivos da Capitania de Aveiro, porém, Francisco António Rendeiro (terceiro em 1955) e José Maria Gonçalves Lamego (primeiro em 1956) são ambos reputados proprietários de numerosas embarcações. Nenhum dos premiados nestes dois anos figura como construtor nos registos existentes.
Nestas duas edições, sabe-se que concorreram respectivamente doze e quinze embarcações e que o júri manteve a sua constituição original. O “III Concurso dos Painéis das Proas de Moliceiros” (1956) teve lugar, ao contrário do previsto, no dia 8 de Abril, por não ter sido possível realizar-se no dia da inauguração da Feira de Março (25 de Março), devido ao mau tempo. Apesar da habitual confusão entre “proas” e “painéis” em geral, patente na própria designação do concurso, a atenção mantem-se centrada nos “painéis novos ou restaurados mais típicos e sugestivos”. As actas da Comissão Municipal de Turismo já não descrevem, contudo, os painéis premiados .
A partir de 1957, “a nova modalidade para o concurso dos barcos moliceiros” traduz uma notável aproximação à orientação ideológica seguida pelo regime em relação à cultura popular portuguesa, acompanhada de uma crescente supervisão por parte das autoridades representativas do Estado Novo na região:
(...) está em estudo a nova modalidade para o concurso dos barcos moliceiros, este ano extensivo não só às proas daqueles que beneficiarão dos prémios habituais, como ainda se destinam outros prémios a conjuntos ou ranchos que os ocupam, tendo em consideração a sua indumentária típica ou qualquer manifestação folclórica – danças, alfaias das fainas lagunares, etc. Os prémios seriam para estes: 500$00, 300$00 e 200$00 respectivamente.
Há que incentivar e premiar “qualquer manifestação folclórica”, em sintonia com o conceito forjado e cultivado pelo Estado Novo. A presença de “conjuntos ou ranchos” a bordo de barcos moliceiros não é prática habitual durante a faina, ocorrendo apenas aquando das deslocações para a romaria do S. Paio. No entanto, a retórica do regime logo explora essa fugaz vertente festiva, pelo que urge inventar, construir e recompensar esta nova tradição. Para que a supervisão institucional seja completa e incontestável, Eduardo Brazão, Secretário Nacional da Informação, aceita o convite da Comissão Municipal de Turismo, por intermédio do Governador Civil, para presidir ao IV Concurso dos Barcos Moliceiros. O júri de 1957 tem os mesmos elementos dos anos anteriores, acrescidos do Governador Civil de Aveiro, Francisco José Rodrigues Vale Guimarães, elemento particularmente próximo do regime .
O concurso de 1958 é já mais modesto nas individualidades a ele associadas e o júri é simplesmente presidido pelo Capitão do Porto de Aveiro. De entre os dezasseis moliceiros concorrentes, foram premiados “os que tinham os seguintes arrais: Manuel Augusto da Silva Ruela, Angelo Esteves, Alberto Tavares da Silva Arroja e José Maria da Cunha, todos da Murtosa” . Apesar de aqui designados por “arrais”, trata-se, mais uma vez, dos proprietários das embarcações, todos eles com diversos registos, como é o caso de Alberto Tavares da Silva Arroja, ou “Arrojado”, pertencente a uma família de destacados moliceiros-proprietários da Murtosa. Contrariando, mas não desmentindo, a tendência generalizada ao longo dos anos, o vencedor da edição de 1960, Joaquim Maria da Silva, da Torreira, é simultaneamente arrais da embarcação, prolífero construtor e proprietário de vários moliceiros.
De novo, é o Fundo Documental do Jornal O Século que detem uma fotografia colorida, datada de 23 de Março de 1958 e intitulada “Aveiro – Dois dos típicos barcos Moliceiros que concorrem ao certame a realizar em 25 de Março”. Nela se identifica, em grande destaque, a proa do A9787-M, construído em 1956 por Joaquim Maria Henriques Júnior, da Murtosa.
O A9787-M não figura entre os premiados, apesar de exibir um original painel de índole satírica, de traço cuidadoso, com um carteiro correndo por entre flores e grinaldas. A legenda não se encontra dentro do tradicional rectângulo branco, mas sim dentro de uma grinalda que se confunde com as cercaduras e nela se lê “O correio das alcobiteiras”. Este motivo satírico, com sua personagem e respectiva legenda, é ainda textualmente reproduzido na década de noventa, sendo notório que se encontra bem arreigado no imaginário local. Contudo, e tendo em conta outras imagens da época, painéis de proa como o do A9787-M não são comuns, já que estes tendem a ser preenchidos com as tradicionais figurações de cavaleiros em campo circular ou de autoridades entre reposteiros coroados. Esta orientação geral está bem patente numa fotografia da década de cinquenta existente na Imagoteca Municipal de Aveiro, onde as proas de oito moliceiros a concurso, alinhados frente à tribuna dos jurados, exibem invariavelmente um desses motivos. O conservadorismo – estético e ideológico – desta época contrasta de modo flagrante com a actualidade, em que os painéis de proa com figuras de mestres-cavaleiros nem mesmo são classificados pelo júri, dado que este não os considera “originais”.
Nos anos seguintes, mantêm-se os jurados de 1958, com a presença do Chefe do Departamento Marítimo dos Portos de Douro e Leixões, por convite, em 1960. Em 1962, o júri alarga-se a outras individualidades locais, com especial incidência na cultura e no turismo, em total sintonia com os objectivos que norteiam o concurso, já devidamente aprovado pelos representantes do regime: “para júri de classificação foram indicadas as seguintes individualidades: Senhores Presidente da Câmara, Presidente da Comissão de Turismo, Senhor Capitão do Porto, os Directores dos jornais locais e o artista aveirense Senhor Gervázio Aleluia” . Em 1965, junta-se-lhes o Director do Museu de Aveiro.
O Fundo Documental do Jornal O Século possui uma imagem a cores com “Um aspecto do concurso dos barcos moliceiros”, de 17 de Abril de 1962, onde se destacam as proas de quatro das embarcações concorrentes nesse ano. Importa aqui reiterar algumas das características comuns ao traço deste grupo de painéis, que mereceu a atenção do júri, do público e dos fotógrafos presentes: um painel de estrutura tradicional e intenso colorido, com quatro figuras humanas em cenário campestre; um painel de estrutura invulgar, sem legenda nem cercaduras, com motivos inspirados no “folclore” nacional espalhados pelo flanco da proa e imagem de um casal de bailarinos típicos em campo circular; dois painéis tradicionais, com figuras entre reposteiros coroados. Os concorrentes mostram-se cientes da necessidade de respeitar nos seus painéis o objectivo que preside ao concurso: conservar “os característicos painéis polícromos” bem como “qualquer manifestação folclórica”, isto é, reproduzir e destacar tudo aquilo que é considerado “tradicional” e como tal recompensado.
Após terem recebido a aprovação pública e oficial dos representantes do regime, os organizadores do concurso enfrentam agora a preocupação de o manter em funcionamento e divulgar, de modo a preservarem a sua função dentro da estrutura propagandística encenada pelo SNI. Para incentivar a adesão dos moliceiros, que participam sempre em número proporcionalmente reduzido, tendo em conta a quantidade de embarcações à data existentes, estabelece-se que, a partir de 1959, seja concedido a cada concorrente não classificado um prémio de 50$00, a título de compensação. No entanto, e apesar de tal incentivo, em 1960 são apenas doze as embarcações concorrentes. Esta edição do concurso teve ainda de ser adiada para 27 de Abril, devido novamente ao mau tempo que acompanhou a inauguração da Feira de Março. Em 1961, é aprovada a proposta de aumento de 100$00 para cada prémio, mantendo-se o prémio de participação em 50$00. No ano seguinte, o primeiro prémio é já de 1.000$00, o segundo de 700$00 e o terceiro de 400$00, com todos os restantes concorrentes a receberem um prémio de consolação de 100$00. As consequências são imediatas: “A Comissão congratulou-se pelo êxito alcançado pelo concurso dos barcos moliceiros, que este ano registou um número ‘récord’ de inscrições, pois nele se apresentaram 25 barcos”, reafirmando, de seguida, os objectivos de propaganda e preservação que presidiram à criação do concurso . No plano de actividades para o ano de 1964, o texto é ainda mais explícito: “Organizaremos o tradicional concurso ‘Painéis de Barcos Moliceiros’, com o fim de tentar evitar que se extinga esta tradição” .
Nos inícios da década de sessenta, as actas da Comissão Municipal de Turismo passam a registar o interesse pela divulgação do evento na comunicação social – imprensa, rádio e televisão –, sem contudo adiantarem se os seus sucessivos pedidos de divulgação são ou não atendidos. Os objectivos são claros: “[utilizar] a imprensa, rádio e televisão para se fazer uma boa propaganda que traga à cidade o maior número possível de visitantes”, uma vez que o concurso de barcos moliceiros “constitui um óptimo cartaz de propaganda da Ria” . De acordo com a retórica actuante, o eventual interesse turístico seria suscitado pela encenação necessariamente controlada (e censurada) de tradições regionais, enquadradas na reconstrução folclorizada da cultura popular portuguesa .
Estes eventos de tradição recente, em última análise “artificiais”, pretendem substituir-se na atenção pública a genuínas porém incontroláveis tradições populares, como são as romarias e demais festividades religiosas e seculares, apesar de todas as intervenções institucionais a que estão também sujeitas. No entanto, é essa mesma “artificialidade”, associada ao primado da “utilidade”, que impede a sedimentação destes eventos no espaço e no tempo, o que implica também a dificuldade em captar um número satisfatório quer de actores quer de espectadores. Os acontecimentos do ano de 1961 são ilustrativos:
Verificando-se inúmeras dificuldades para enquadrar este concurso num dos Domingos da Feira de Março, e porque este só por si constitui já um cartaz de turismo que atrai à cidade bastantes visitantes, foi deliberado realizar aquele concurso integrado numa festa popular da Ria num Domingo da segunda quinzena de Maio, a determinar oportunamente. (...) A Comissão chegou à conclusão de que o mesmo [Concurso dos Painéis dos Moliceiros] tem de ser adiado pela dificuldade em encontrar uma data favorável, em virtude da impossibilidade da conjugação da maré com os festejos que se estão a preparar pelo êxito desportivo alcançado pelo Sport Clube Beira-Mar.
Em 1964, o concurso decorreu a 12 de Abril (tal como em 1965) e foi necessário efectuar diligências junto dos proprietários dos barcos a fim de estes concorrerem ao certame. As actas referem “certa relutância na comparência para este ano, devido ao descontentamento do ano anterior”, sem contudo desvendarem as causas e consequências desse descontentamento, até então omitido . A solução encontrada passa pelo aumento do prémio de presença para 150$00, o que surtiu imediato e considerável efeito. Nesse ano, o êxito do concurso excedeu todas as expectativas, pois nele se apresentaram sessenta concorrentes, que desfilaram no Canal Central durante três horas . As actas da Comissão Municipal de Turismo omitem estrategicamente a táctica utilizada para despertar tão inusitada mobilização por parte dos proprietários de moliceiros e seu repentino interesse pela preservação das pinturas das suas embarcações.
Entre 1967 e 1971, não se efectua nenhuma reunião da Comissão Municipal de Turismo, de acordo com anotação constante do próprio Livro de Actas. Retomadas as sessões, as actas de 1972 não apresentam, contudo, qualquer referência aos barcos moliceiros. No entanto, em Junho desse ano, realizam-se normalmente as Festas da Cidade, com uma “Festa da Ria” que confere grande protagonismo às embarcações tradicionais e não descura o habitual concurso de painéis.
A imprensa diária nacional mostra-se agora atenta ao potencial estético e turístico (logo, económico) destas manifestações consideravelmente organizadas, cujo alcance ultrapassa de longe as romarias e festividades populares locais, devido à estrutura institucional, financeira e propagandística que as sustenta. Tanto O Primeiro de Janeiro como O Século dedicam longos artigos às Festas da Ria de 1972 que, apesar da sua retórica algo anacrónica, permitem reconstituir os passos do evento.
O Primeiro de Janeiro de 21 de Junho de 1972 anuncia o concurso de barcos moliceiros, “que só por si, no aspecto etnográfico, constitui um espectáculo digno de apreço, com desfile dos barcos concorrentes e distribuição de prémios aos concorrentes das diversas provas”. Esse “aspecto etnográfico”, por vezes ainda eivado de conceitos como “tipicidade” e “castiça”, é já apercebido enquanto valor simbólico e mobilizador, “avisadamente” promovido pelas entidades competentes.
O concurso de painéis integra-se agora num contexto marcadamente turístico e estival, direccionado para a celebração e promoção da cidade e do seu símbolo, a Ria de Aveiro. Este símbolo é, por sua vez, simbolizado pelas suas embarcações tradicionais, onde se destaca naturalmente o barco moliceiro e suas peculiares decorações. E, de novo, o moliceiro é quase só referido a propósito da sua representação (simbólica) preferencial, os painéis, principalmente os painéis de proa. Numa projecção metonímica que acabará por associar os dois extremos desta sequência de representações simbólicas, a proa do moliceiro virá a tornar-se no símbolo da região aveirense, tal como sucede actualmente.
Na sequência da adesão e divulgação alcançadas pelas Festas da Ria de 1972, a Comissão Municipal de Turismo volta a interessar-se pelo assunto em 1973 e de novo sublinha nas suas reuniões a necessidade de preservar e planear atempadamente o evento. Dentro deste, o protagonismo assumido pelo concurso de painéis é de tal ordem que acaba por confundir-se com a própria Festa, com o texto das actas a referir-se-lhes de forma indistinta. Também a imprensa parece privilegiar o concurso de painéis, reflectindo aquilo que, na realidade, as festividades têm de mais original e digno de notícia, e que é simultaneamente o momento que consegue maior adesão popular, quer de espectadores quer de participantes.
A reunião de Julho de 1973 da Comissão Municipal de Turismo é presidida pelo vereador Alberto Branco Lopes e conta com a presença expressamente indispensável do Comandante do Porto de Aveiro. A acta intitula este ponto da ordem de trabalhos de “Festa da Ria”, no entanto, passa de imediato ao concurso de painéis “já tornado tradição e como tal não pode deixar extinguir-se, por constituir não só um estímulo aos proprietários dos barcos que hoje em dia existem em minoria, mas também por ser um belo e atraente cartaz da nossa inegualável Ria” . Ciente da crise existente no sector do moliço, a Comissão decide realizar as festividades nos dias quinze e dezasseis de Setembro, data muito próxima do S. Paio da Torreira (sete a oito de Setembro) e que já não se pratica actualmente. Resolve ainda aumentar o prémio de presença para duzentos e cinquenta escudos, instituir um novo prémio de setecentos e cinquenta escudos para os moliceiros que se apresentem com pinturas novas e reduzir o número de prémios, que era de cinco, para três. A partir deste momento, não existe mais nenhuma referência aos barcos moliceiros no Livro de Actas da Comissão Municipal de Turismo, até à última acta, datada de 9 de Abril de 1974.
A Revolução de 1974 e o sequente período de instabilidade generalizada não obstaram, contudo, à realização da Festa da Ria e seu concurso de painéis. Em 1978, por exemplo, o Jornal de Estarreja noticia-os com grande destaque, o que permite concluir que, apesar de a década de setenta constituir o culminar da crise da indústria artesanal do moliço, o número de embarcações presentes foi elevado, ultrapassando mesmo os números das primeiras edições. Proporcionalmente, a mobilização das embarcações (e tripulações) sobreviventes deve ter sido quase total, salientando-se ainda o facto de muitas exibirem novas decorações. Naturalmente que a tal facto não será alheia a considerável inflacção dos prémios em jogo, de novo aumentados para cinco e acompanhados de prémios de participação e de incentivo às novas pinturas. Em época de crise, os moliceiros encontram assim forma de subsidiar uma arte na realidade quase extinta.
É curioso notar que, apesar de todas as alterações em curso na sociedade portuguesa, quase tudo se mantém igual neste concurso. Os premiados continuam a ser apenas os proprietários dos moliceiros – alguns dos quais pertencentes a reconhecidas famílias de proprietários – e o júri conserva na generalidade os membros das décadas anteriores: o Pre¬sidente do Município (Girão Pe¬reira), o Comandante da Capitania (Faria dos Santos), David Cristo, Eduardo Cerqueira e Diamantino Dias.
Esta edição do Jornal de Estarreja guarda a descrição dos painéis vencedores: “o moliceiro vencedor tinha na proa o desenho de uma figura feminina com a legenda ‘Rainha da Ribeira d’Aldeia’ e na ré a figu¬ra de peixeiros, legendada com ‘Não o compro por esse preço’ e, ainda, um homem a puxar um carro com um burro, com o seguinte comentário: ‘Agora quem puxa sou eu’”. A temática rural iterativa e alheada da conjuntura da época bem como o humor assente em trocadilhos já tradicionais, reiteram o conservadorismo inerente ao universo dos moliceiros, seus pintores, proprietários e concursos. Os painéis “Rainha da Ribeira d’Aldeia” e “Agora quem puxa sou eu” (este baseado na simples inversão da hierarquia homem-animal, sem qualquer extrapolação social pertinente) são ainda reproduzidos na actualidade e figuram sob várias formas na recolha fotográfica referente à década de noventa.
O conservadorismo característico do funcionamento do evento e dos próprios painéis não sobreviveu, contudo, por muito mais tempo, na nova conjuntura que gradualmente se estendeu a todos os sectores e práticas da cultura portuguesa. A década de oitenta testemunhou a degradação quase irreversível dos moliceiros ainda existentes e também a suspensão do respectivo concurso. Foi apenas em 1988 que a tradição das Festas da Ria foi retomada, logo seguida pela reactivação do concurso de painéis . Na década de noventa, as entidades organizadoras (Câmara Municipal e Rota da Luz) destacavam-no já como sendo uma das principais atracções das festividades. Ciente disso, a imprensa local descreve passo a passo a regata e o concurso de painéis de Agosto de 2002, com uma retórica muito próxima da do relato de uma verdadeira competição desportiva.
Actualmente, o “concurso dos painéis” não se limita às festas de Aveiro e da Ria e estende-se no espaço e no tempo por toda a região lagunar e por toda a época estival. É parte integrante do programa de festas do S. Paio da Torreira, em Setembro, mas também ocorre a nível ainda mais restrito em Quintas do Norte e no Torrão do Lameiro (Ovar), durante o mês de Agosto. Os moliceiros, seus construtores, pintores e proprietários circulam entre os eventos, acumulando prémios (como no caso do pintor José Manuel Oliveira) e também disputas com os jurados, cujas decisões são sempre recebidas com grande reserva. Por essa razão, nasceram concursos tão delimitados como o de Quintas do Norte, vedado a participantes da Murtosa, para alegadamente evitar mais uma vitória do pintor da AMIRIA. A atenção do público e da imprensa local e regional mantém-se, porém dificultada pela dispersão que a multiplicação da oferta sempre traz consigo. Os painéis a concurso integram-se em todas as temáticas da actualidade (jocosos, sociais, religiosos, históricos e lúdicos), com total liberdade criativa. Apesar de a defesa da tradição continuar a ser o denominador comum, na realidade, a preferência do júri vai agora para os painéis de traço muito elaborado, inegavelmente obra de pintores com formação, e para as temáticas jocosas de cariz erótico ou de sátira às instituições. Privilegiam também os painéis que abordam temas ligados à celebração do património local, principalmente quando ilustrados com atraentes imagens de moliceiros. O moliceiro transformou-se no mais eficiente arauto do seu próprio valor, actuando em momentos construídos ou reconstruídos e direccionados preferencialmente para o consumo externo.
Na actual prática pictórica, ocorrem já várias alusões à temática das festividades locais, praticamente ignorada antes da década de noventa. Dentro dos painéis sociais encontra-se mesmo uma categoria designada “Festas e Cerimónias”, onde ocorre por várias vezes a legenda “Festa da Ria” (ou “Festas da Ria” e “Festa na Ria”). Esta legenda é ilustrada de duas formas: com o tradicional par de bailarinos em trajes típicos (também legendado com “Vira Manel”, “Canta que logo bebes” ou “Vira que a festa é nossa”, entre outras) ou com um ou vários moliceiros engalanados, navegando em dia de festa, com as velas desfraldadas. A “festa” remete aqui para dois contextos, paralelos na realidade: a tradição das festividades populares, “folclóricas”, com seus “ranchos” de bailadores, e também a tradição das regatas de moliceiros, qual delas a mais recente e (re)construída. É cada vez maior o número de painéis que associa a noção de “festa” ao barco moliceiro em si, pois os seus autores compreendem que aquele que fora outrora o simples meio de transporte dos ranchos de folgazões e bailarinos é agora o protagonista dessa mesma festa. A celebração festiva do moliceiro é ilustrada em painéis sociais sobre “Festas e Cerimónias” de finais da década de noventa e inícios do século XXI, como: “Eu tamén vou na regata” (com a mascote da Expo98 – Gil – a participar na festa), “Viva a nossa festa”, “Festa na beira Ria bira Manel e bira Maria”, “Viva a festa do S. Paio”, “Festas da Ria... 2001”, “Vou para a Festa da Ria”, “567 anos da Feira de Março”, “A nossa linda Ria está em festa”, “É a festa da nossa Ria” ou “Vira Maria que há festa na Ria”. Desta forma, o moliceiro tudo celebra (regata, Festas da Ria, Feira de Março, S. Paio), pois também em todos esses momentos ele é celebrado, enquanto símbolo da região. Não existem, contudo, painéis sobre o próprio concurso de painéis.
A percepção do valor patrimonial do moliceiro subjaz a muitos dos painéis com “Apelos Ecológicos e Celebração do Património” (“Não acabar a tradição”, “A tradição continua”, “Não deixarei morrer a tradição”, “Moliceiro primeiro barco histórico”, “Moliceiros não acabem com esta linda tradição”), ilustrados com belas imagens de moliceiros e/ou painéis com detalhadas decorações. Construtores e pintores são igualmente evocados, enquanto agentes essenciais à criação e conservação do património, em painéis sociais designados por “Mestres moliceiros, barqueiros e pintores”, como: “Sou carpinteiro naval”, “Vou-te devolver a juventude” (sobre o A2040-M, construído por Agostinho Tavares em 1985 e restaurado por António Esteves em 2001), “Nobre arte a de pintor”, “O começo dum barco”, “Sou o rei das pinturas” e tantos outros, que simplesmente registam o nome do mestre ou do estaleiro (como é o caso da AMIRIA, pródiga em louvores a si mesma), fazendo uso da tradicional imagem do cavaleiro ou do aristocrata.
Existe, deste modo, uma relação directa entre os painéis do moliceiro e todos os intervenientes nos eventos que o celebram. Verifica-se a representação efectiva dos momentos festivos, dos construtores e demais agentes, radicando na representação meta-referencial do próprio moliceiro. Certos painéis aceitam e reproduzem até os tópicos ideológicos que têm orientado o discurso da imprensa e das autoridades: a necessidade de celebrar e preservar a tradição, apesar de tais painéis serem já por si uma inovação na tradição.
Cientes da representatividade e valor patrimonial e simbólico das suas embarcações, os construtores e proprietários de moliceiros prosseguem actualmente a missão encetada pelas autoridades locais nos anos cinquenta e à qual, durante muito tempo, só os prémios pecuniários os faziam aderir. Participam agora activamente nesse processo, por motivos económicos e já não ideológicos, explorando a estética inerente ao barco moliceiro, que está na base da sua recuperação, conservação e exploração lucrativa.
Translation - English The processes of representation and celebration of the ethnographic object have been rebuilt in a useful way for the political, economic and cultural powers, leading to a recreational consumption of that object. This object starts being produced for the external popular consumption, in a leisure and cultural centrifuge way, directed to the general public and tourists in particular. A trend too distant from the original production for immediate use in a context of limited and centripetal economic subsistence within a geographic community, both economically and culturally (de)limited.
The moliceiro boat, as an ethnographic object, currently places itself in a symbolic leisure structure, resulting from a long process of political, social and economic negotiations. The aforementioned reinvention of the S. Paio da Torreira festivities, with all supervision and intervention of institutions over this originally popular practice, is also part of that structure. However, the popular element in the S. Paio festivities - driving figure or later simply an accessory - is inherent in both the genesis and the regular implementation of the event. But other "traditions" that exist around the boat moliceiro are purposely built by the elite or institutional entities, creating objects and events to an extended external consumption, either direct or symbolic, with its own political, economic and social yield.
In this category are moliceiros’ panels competitions. Contrary to the official rhetoric (and still) assumes, it is actually a completely artificial tradition, created in the twentieth century by local authorities and that only makes a limited use of the popular element. This function is to construct the subject, submit it for review and accept admittedly higher the reward due to their participation in the ritual. In turn, the target audience is less than the local community entities invited the press and national and foreign visitors.
The need to tame and rebuild popular traditions led to the censorship of the S. Paio da Torreira pilgrimage and its wine baths of the saint’s image, in the forties. Subsequently, the program for the festivities is gradually adulterated with the inclusion of livestock competitions, sport boats regattas, swimming competitions and even a bullfight, like nowadays. In the fifties starts the building of the moliceiros’ panels competition tradition.
In these circumstances, and unlike other traditional folk festivities, the moliceiros’ panels competition stems originally in Aveiro, host for the creating and supervising authorities. Only many years later, in the last decade of the twentieth century, will similar competitions spread across Ria de Aveiro, with local recreations in Torreira, Quintas do Norte and other locations.
It is during the regular meeting of the Municipal Tourism Aveiro of November 9, 1953, that the vowel and Captain of the Port of Aveiro, Carlos Ferreira Pinto Basto Career, proposes, with immediate approval, the creation of a monetary prize for "a 'moliceiro' boats competition organized in order to encourage boat owners to maintain the custom of presenting the bow and stern of the boat with characteristic polychrome panels. This competition will be held, if possible, on the 25th of March each year at the time of traditional Boats Fair". The Boats Fair, which took place during the March Fair, was, as its name implies, a privileged moment for the gathering of traditional boats in the Central Canal Aveiro. In the Documentary Fund of the O Século newspaper of the Photography Archive of Lisbon, are photographic records of the Boats Fair dated 1941 and 1950, therefore chronologically closer to the first panels competition, which highlight the mercantile and moliceiros aligned opposite to the entrance to the fair grounds.
In the decades of between 1944 and 1953 and between 1954 and 1963, the frequency of new moliceiro registrations was indeed decreasing, in comparison with the previous decade from 1934 to 1943. This proposal by the Captain of the Port of Aveiro, the entity closest to the process of registration and approval of new vessels, revealed a concern for a crisis that may be glimpsed in traditional shipbuilding and particularly in the construction, painting and maintenance of moliceiros. However, as already pointed out, the sequence of events will also indicate a simultaneous or immediately following ideological dimension underlying the implementation of the event.
The monetary awards for the most suggestive panels were fixed in 500$00, 300$00 and 200$00, respectively, for the first, second and third places, and the jury of this first competition, to be held at 3 p.m. on March 25, 1954, was composed of the Mayor of Aveiro (Albano da Silva Sampaio), the Director of the Regional Museum (Alberto Souto), the Director of the Port of Aveiro (John Ribeiro Coutinho de Lima), the Captain of the Port of Aveiro (Carlos Augusto Ferreira Pinto Basto Carreira), the President of the Municipality Tourism Commission (Arnaldo Estrela Santos) and two voting members of this Commission (Eduardo Cerqueira Silva and Carlos Aleluia) . As it turns out, this is only of local authorities, with political and administrative positions, without practical knowledge of everyday popular life of the region nor the lagoon cottage industry of seaweed and shipbuilding.
Once the event takes place, the minute of the meeting of the Municipal Tourism Commission lists the winners and briefly describes the winning panels:
As already reported, the "Moliceiro Boats Competition" took place, whose awards were awarded unanimously to the first three who presented with the more suggestive bows, and were ranked in the following order: 1st prize, Esc: 500$00, was awarded to the "moliceiro" with its implements, registered under number 2, belonging to Master Joaquim Raimundo, from Murtosa, which was done on purpose for this event, with the following captions: on the bow: - "Espera-me no campo" and also with a military and Mocidade Portuguesa. On the stern: "Vendes o meu peixinho" and "Só quero tua rosa"; 2nd prize, Esc: 300$00 was awarded to the "moliceiro", also new, with its implements, enrolled under No. 1, belonging to José Bernardino da Silva Paiva, of Murtosa, with the following captions: on the bow: - A military. On the stern: "O guarda amoroso" (dog) and a horse; 3rd prize, Escudos 200$00 was awarded to the "moliceiro", with signs of use, registered under No. 5, owned by Gonçalo Maria da Silva Pita, from Murtosa, with following captions: on the stern: - A couple: "É muito minha". In the back: knight and dame and "O fiscal do moliço". Given the success of the competition, it was decided to repeat it next year, analyzing, in due time, the possibility of increasing the prizes.
Sometimes the term "bow" is used to refer indiscriminately to the panels of the vessel, whether these are on the bow or the stern. However, as shown in the text and also the proposal that originated the competition, all panels are rated and rewarded. The presence of "um militar Mocidade Portuguesa" on one of the winning panels is atypical and has obvious ideological implications. The remaining winning panels are clearly related to the rural and lagoon contexts ("Espera-me no campo", "Vendes o meu peixinho" and "O fiscal do moliço"), with human and animal figures linked to everyday popular life and humorous notes necessarily veiled, like "Só quero tua rosa" and "É muito minha".
The Documentary Fund of the O Século newspaper has a picture of this first competition, dated March 1954 and named “Aspect of the Ria, showing, in the center, three Moliceiros competition ranked in the Boats Fair, during the March Fair." This precious testimony shows the crowd gathered on the pier to watch the boats. However, due to the distant angle of the photograph, the winning panels are virtually unnoticeable, although it is possible to verify that the stern panels are decorated so profusely as the ones in the bow and two of them present the depicted scene in a framed hood.
The first meeting minutes reveal some concern for the detailed narration of the event. It is noted if the vessel was purposely built for the competition, as was the case of the winning moliceiro, or if it is a "used moliceiro", since the aim of the event is as much the construction as it is the maintenance of vessels. However, the winners tend to be new moliceiros.
Interestingly, the competition rewards the owners and not the builders or painters of the moliceiros, following the founding purpose to the letter, as expressed in the meeting on November 1953: "encourage boat owners to maintain the custom of presenting the bow and stern of the boat with the characteristic polychrome panels". Occasionally, there is the case of the owner being also the builder, as was the case of the winner of this first edition, the celebrated Master Joaquim "Raimundo", from Murtosa. The runner-up, José Bernardino da Silva Paiva, belonged to a family of builders and owners of Murtosa, but no record of ships built by them can be found. As for Gonçalo da Silva Maria Pita, also from Murtosa, he figured in the Captaincy records solely as owner, in the fifties. The text itself emphasizes that the moliceiro in question is "belonging to" (not "built" or "painted by"), so it can be concluded that the primary interest is the reward - and incentive – of the property and not the of origin. This priority follows the general orientation of the regime, for whom the agents of the various production processes are secondary compared to owners of those same means of production and their products. These are traded and monetized without regard for the agents and circumstances. Only when production is intertwined with the property is the "owner-builder" entitled to the prize. To this end, the builder must compulsorily be proprietary but the reverse does not occur. Nor can any reference to any non-builder-painters be found, hired specifically for the decoration of the vessel.
Owners should "submit to the bow and stern of the boat with characteristic polychrome panels", an objective clearly aimed to the exterior, to display a cultural practice exploitable and profitable in sectors already far from simple shipbuilding craft or collection of seaweed. The text of the minute of April 1954 ends with the following decision: "Given the success of the competition, it was decided to repeat it next year, analyzing, in due time, possibility of increasing the prizes”.
Indeed, in 1955, there has been a change in the monetary value of the prize with the runner-up getting 400$00, due to the introduction of a fourth prize. Master Joaquim "Raimundo" is again the owner-builder winner, with another "new moliceiro". A photograph belonging to the Municipal Image Library of de Aveiro records the awarding of this first prize. The following year, Master Raimundo is ranked only third, with victory belonging to the "restored moliceiro" of José Maria Gonçalves Lamego, from Ovar. Not all the winners are listed unequivocally in the records currently available in the archives of the Captaincy of Aveiro; however, Francisco Antonio Rendeiro (third in 1955) and José Maria Gonçalves Lamego (first in 1956) are both reputed owners of numerous vessels. None of the winners in these two years figures as a builder in existing records.
On these two editions it is known twelve and fifteen vessels competed, respectively, and that the jury kept its original constitution. The "III Moliceiro Bow Panels Competition" (1956) took place, contrary to what was expected, on April 8, because it was not possible to host on the opening day of the March Fair (25 March), due to bad weather. Despite the usual confusion between "bows" and "panels" in general, as seen in the very name of the competition, the attention was focused on the "new panels or those restored and more typical and suggestive." The minutes of the Municipal Tourism Commission no longer describe, however, the winning panels.
Starting in 1957, "a new modality for the moliceiro boats" reflects a remarkable approach to the ideological orientation followed by the regime in relation to Portuguese popular culture, accompanied by an increasing supervision by the authorities representing the Estado Novo in the region:
(...) is is being analyzed a new modality for the moliceiros competition, this year extended not only to the bows of those who benefit from regular prizes, as well as other awards are designed to cultural groups that board them, taking into account their clothing or any typical folkloric manifestation - dances, implements of the lagoon chores, etc. The prizes for these would be: 500$00, 300$00 and 200$00, respectively.
There is a need to encourage and reward "any folkliric manifestation", in line with the concept forged and cultivated by the Estado Novo. The presence of "cultural groups" aboard moliceiro boats is not common practice during the chores, occurring only during their journey to the pilgrimage of S. Paio. However, the rhetoric of the regime soon explores this fleeting festive aspect, so it is urgent to invent, build and reward this new tradition. So that the institutional overseeing is complete and indisputable, Eduardo Brazão, the National Secretary for Information, accepted the invitation of the Municipal Tourism Commission, through the Civil Governor, to preside over the IV Moliceiro Boats Competition. The jury of 1957 has the same members of the previous years, joined by the Civil Governor of Aveiro, Francisco José Rodrigues Vale Guimarães, a member particularly close to the regime.
The 1958 competition is now more modest in terms of the associated personalities to the event and the jury is led only by the Captain of the Port of Aveiro. Among the sixteen moliceiros competing, those awarded were "those with the following ‘arrais’: Manuel Augusto da Silva Ruela, Angelo Esteves, Alberto Tavares da Silva Arroja and José Maria da Cunha, all from Murtosa" . Although referred to herein as "arrais" [skippers], these are, again, the boat owners, each with different records, as is the case of Alberto Tavares da Silva Arroja or "Arrojado" [“Bold”], belonging to a family of prominent moliceiro-owners from Murtosa. Contrary (but not denying) to the general trend over the years, the winner of 1960, Joaquim Maria da Silva, from Torreira, is both skipper of the vessel, prolific builder and owner of several moliceiros.
Again, it is the Documentary Fund of the O Século newspaper that holds a color photograph, dated March 23, 1958, and entitled "Aveiro - Two of the typical Moliceiro boats competing on the event, to be held on 25 March". It identifies in great prominence the bow of the A9787-M, built in 1956 by Joaquim Maria Henriques Júnior, from Murtosa.
The A9787-M was not among the winners, despite showing an original panel of satirical nature and careful lines, with a postman running through flowers and wreaths. The caption is not within the traditional white rectangle, but within a wreath that blends with the moldings and it reads "O correio de alcobiteiras". This satirical motif, with its character and its caption, is also textually reproduced in the nineties, being notorious that it is well entrenched in local imagery. However, taking into account other images of the era, bow panels like the A9787-M are not common, since they tend to be filled with traditional figurations in circular field of riders or authorities between crowned draperies. This general approach is well illustrated by a photograph of the fifties existing in the Municipal Image Library of Aveiro, where the bows of eight competing moliceiros, lined up opposite to the tribune of the jury, exhibit invariably one of those motifs. Conservatism - both aesthetic and ideological – of the era sharply contrasts with the present, where the bow panels with figures of knights-masters are not even classified by the jury, since they are considered the "original".
In the following years, they keep the jurors from 1958, with the presence of the Head of the Department of Maritime Ports of Douro and Leixões, by invitation, in 1960. In 1962, the jury extends to other local personalities, with a focus on culture and tourism, in tune with the objectives that guide the competition, now approved by the representatives of the regime: "for the awarding jury, the following personalities were appointed: the Mayor, the Chairman of the Tourism Commission, the Captain of the Port, the directors of the local newspapers and Aveiro artist, Mr. Gervázio Aleluia" . In 1965, they were joined by Director of the Museum of Aveiro.
The Documentary Fund of the O Século newspaper features a color image with "One aspect of the moliceiro boats competition" from 17 April 1962, where the four bows of boats competing that year are highlighted. It is important to reiterate some of the common traits to this group of dash panels, which attracted the attention of the jury, the public and photographers present: a panel of traditional structure and intense colors, with four human figures in a countryside setting; an unusual structure panel without caption or moldings, with motifs inspired by the national "folklore" over the flank of the bow and a couple of traditional dancers in a circular field; two traditional panels, with figures between crowned draperies. The competitors seemed aware of the need to respect the objective of the competition in their panels: to preserve “the characteristic polychrome panels" as well as "any folkloric manifestation", ie, to reproduce and highlight everything that is considered "traditional" and rewarded as such.
After receiving the public and official approval of the representatives of the regime, the competition organizers now faced the concern of its continued operation and promotion in order to preserve their function within the framework of propaganda staged by SNI. To encourage the participation of moliceiros, who participate always in proportionally reduced fashion, taking into account the number of vessels existing at the time, it is established that, from 1959, a prize of 50$00 is awarded to each competitor that is not ranked as a compensation. However, in spite of this incentive, in 1960 there are only twelve competing vessels. That year's competition had also to be postponed to April 27 due to the bad weather that came with the opening of the March Fair. In 1961, the proposal to raise each prize by 100$00 is approved, keeping the participation prize at 50$00. The following year, the first prize was already at 1.000$00, the second 700$00 and the third 400$00, with all other competitors receiving a consolation prize of 100$00. The consequences are immediate: "The Commission welcomed the success achieved by the moliceiros competition, which set the participation record this year because 25 boats took part in it", followed by the objectives of propaganda and preservation that guided the creation of the competition . In the business plan for the year 1964, the text is even more explicit: "We will organize the traditional competition 'Moliceiro Boat Panels', in order to avoid the extinction of this tradition" .
In the early sixties, the minutes of the Municipal Tourism Commission began to show the interest in promoting the event in the media - press, radio and television - without, however, revealing if their repeated requests are met or not. The objectives are clear: "[use] the press, radio and television to make good advertisement, so that it brings the city the largest possible number of visitors", since the moliceiros competition "is an excellent promotion poster for the Ria" . According to the acting rhetoric, any tourism interest would be raised by the necessarily controlled (and censored) staging of regional traditions, inserted in the folkloric reconstruction of Portuguese popular culture .
These events of recent tradition, ultimately "artificial", intended to replace themselves in the public attention to genuine yet uncontrollable folk traditions, as are the pilgrimages and other religious and secular festivities, despite all the institutional interventions to which they are also subject. However, it is that same "artificiality", associated with the rule of "utility", that prevents sedimentation of these events in space and time, which also implies the difficulty in capturing a satisfactory number of either actors or viewers. The events of 1961 are illustrative:
Due to numerous difficulties to set this competition for one of the Sundays of March Fair, and because this in itself is already a poster of tourism that attracts lot of visitors to the city, it was deliberated that the competition should take place at a Ria festivity on a Sunday in the second half of May, to be determined in due time. (...) The Commission came to the conclusion that it [Moliceiro Panels Competition] has to be postponed because of the difficulty in finding a favorable date, owing to the impossibility of combining the tide with the festivities that are being prepared for sporting success achieved by Sport Club Beira-Mar.
In 1964, the competition was held on 12 April (as in 1965) and it was necessary to make arrangements with the owners of these boats in order to compete at the event. The minutes mention "reluctance in attendance for this year due to the discontent of last year," without however unravel the causes and consequences of this discontent, hitherto omitted . The solution was to increase the participation prize to 150$00, which had immediate and significant effect. That year, the success of the competition exceeded all expectations, since sixty competitors participated, parading the Central Canal for three hours. The minutes of the Municipal Tourism Commission strategically omit the tactics used to awaken such an unprecedented mobilization by the owners of moliceiros and its sudden interest in the preservation of the paintings of their vessels.
Between 1967 and 1971, there are no Municipal Tourism Commission meetings, according to an annotation contained in the Book of Acts. Once sessions were resumed, the minutes from 1972 do not show, however, any references to moliceiros. However, in June of that year, the City Festivities are normally held, with a "Ria Festival" giving great prominence to traditional vessels and not neglecting the usual competition panels.
The national daily press appears to be more attentive to the aesthetic and touristic (and therefore economic) potential of these considerably organized manifestations, whose reach extends far beyond the local folk festivals and festivities, due to the institutional, financial and propaganda structure that sustains them. Both “Primeiro de Janeiro” and O Século newspapers devoted long articles to the Ria Festival of 1972 that, despite its rhetoric anachronistic rhetoric, allow to trace back the steps of the event.
The “Primeiro de Janeiro” edition of June 21, 1972, announced the competition of moliceiro boats, "which by itself, on a ethnographic point of view, is a spectacle worthy of appreciation, with a parade of competing boats and the distribution of prizes to the competitors in different events". This "ethnographic point of view", still riddled with concepts like "typicality" and "castiça" [amusing], is now perceived as symbolic and mobilizing, "wisely" promoted by the authorities.
The competition is now inserted in a context marked by tourist and summer, directed towards the celebration and promotion of the city and its symbol, the Ria de Aveiro. This symbol is, in turn, symbolized by their traditional boats, which naturally highlights the moliceiro boat and its peculiar decorations. And, once more, the moliceiro is only mentioned because of its preferential (symbolic) representation, the panels, especially the ones on the bow. In a metonymic projection that will eventually link the two ends of this sequence of symbolic representations, the bow of moliceiro will become the symbol of the Aveiro region, as it is today.
Following the accession and dissemination reached by the Ria Festival of 1972, the Municipal Tourism Commission again shows an interest in the subject in 1973 and underlines the need to preserve and timely planning the event in its meetings. The role assumed by the competition panels is such that ends up confused with the very Festival, with the text of the minutes referring to them interchangeably. The press also seems to favor the competition panels, reflecting what the festivities actually have as most original and newsworthy, and that is also the time that gets more popular support, whether spectators or participants.
The July 1973 meeting of the Municipal Tourism Commission is chaired by councilman Alberto Branco Lopes and is attended expressly and indispensably by the Commander of the Port of Aveiro. The minutes names this point of the agenda "Ria Festival", going, however, immediately to the panels competition that "is already a tradition and, as such, cannot be extinguished, not only because it constitutes an incentive to owners of boats that are, nowadays, a minority but also for being a beautiful and attractive poster of our unrivaled Ria" . Aware of the existing crisis in the seaweed sector, the Commission decided to hold the festivities on the 15th and 16th of September, a date very close to S. Paio da Torreira (7th to 8th of September) and which is not currently celebrated. It also decides to further increase the participation prize to 250$00, to establish a new prize of 750$00 for moliceiros presenting new paintings and reduce the number of prizes (which was five) to three. From this moment on, there is no further reference to moliceiros in the Livro de Actas da Comissão Municipal de Turismo [“Book of Minutes of the Municipal Tourism Commission”] until the last minute, dated April 9, 1974.
The 1974 Revolution and subsequent period of widespread instability did not hamper, however, the Ria Festival and its panels competition from taking place. In 1978, for example, the Jornal de Estarreja newspaper greatly emphasizes both, leading to the conclusion that despite the seventies represented the culmination of the crisis of the artisan industry of seaweed, the number of vessels present was high, exceeding even the numbers of the first editions. Proportionally, the mobilization of surviving vessels (and crew) must have been almost complete, highlighted by the fact that many still exhibit new decorations. Naturally, this is not unrelated to the considerable inflation of the prizes at stake, again increased to five and accompanied by participation prizes and incentives for new paintings. In a time of crisis, the moliceiros find a way of finance a form of art in reality almost extinct.
It is curious to note that, despite all the changes undergoing in the Portuguese society, almost everything remains the same in this competition. The winners are still only moliceiro owners - some of whom belonging to recognized families of owners - and the jury generally maintains the members of previous decades: the Mayor (Girão Pereira), the Commander of the Captaincy (Faria dos Santos), David Cristo, Eduardo Cerqueira and Diamantino Dias.
The same edition of the Jornal de Estarreja keeps a description of the winning panels: "the winning moliceiro had a drawing of a female figure with the caption 'Rainha da Ribeira d’Aldeia' in the bow and the figure of fishmongers in the stern, captioned 'Não o compro por esse preço', as well as a man pulling a cart with a donkey, with the following comment: 'Agora quem puxa sou eu'". The rural iterative and alienated environment theme of the time, as well as the humor based on already traditional puns, reiterate the inherent conservatism of the universe of moliceiros, its painters, owners and competitions. The panels “Rainha da Ribeira d’Aldeia” and “Agora quem puxa sou eu” (based on the simple inversion of the hierarchy man-animal, without any relevant social extrapolation) are still exhibited nowadays and appear in various forms in the photographic collection relating the nineties.
The conservatism characteristic to the functioning of the event and the panels themselves did not survive, however, for much longer in the new situation that gradually spread to all sectors of Portuguese culture and practices. The eighties witnessed the almost irreversible degradation of moliceiros that still existed and also the suspension of its competition. It was only in 1988 that the tradition of the Ria Festival was resumed, followed by the reactivation of the panels competition . In the nineties, the organizers (City Hall and Rota da Luz) highlighted it already as one of the main attractions of the festivities. Aware of this, the local press described the August 2002 race and panels competition, with a rhetoric very similar to the story of a true sporting competition.
Nowadays, the "panels competition" is not limited to the parties taking place in Aveiro and Ria de Aveiro, extending themselves in space and time throughout the region surrounding the lagoon and throughout the summer. It is an integral part of the celebrations program of S. Paio Torreira in September but it also occurs in strictly fashion at Quintas do Norte and Torrão do Lameiro (Ovar), during the month of August. The moliceiros, its builders, painters and owners move between events, accumulating awards (as was the case of the painter José Manuel Oliveira) and also disputes with the judges, whose decisions are always received with great reserve. For this reason, delimited competitions were born, like the one at Quintas do Norte, which does not allow any participants from Murtosa, allegedly to avoid another victory of the AMIRIA painter. The attention of the local and regional public and press remains, despite being hampered by the scattering that the increase in “supply” always brings. The panels are part of the tender on all topics of society (playful, social, religious, historical and recreational), with total creative freedom. Although the defense of tradition continues to be the common denominator, the jury’s preference now goes, in reality, to panels that feature very elaborate lines (undeniably pointing to the work of trained painters) and to playful themes of erotic nature or that satire institutions. They also emphasize the panels that address topics related to the celebration of local heritage, especially when illustrated with attractive pictures of moliceiros. The moliceiro became the most efficient harbinger of its own value, acting at times built or rebuilt and preferentially targeting external consumption.
In the current pictorial practice, there are already several allusions to the theme of local festivities, virtually ignored before the nineties. Within the social panels there is even a category called "Celebrations and Ceremonies", where the caption "Festa da Ria" [“Ria Festival] (or "Festas da Ria" and "Festa na Ria") generally appears. This caption is illustrated in two ways: with the pair of dancers in traditional costumes (also captioned with "Vira Manel", "Canta que logo bebes" or "Vira que a festa é nossa", among others) or with one or more sharply-decorated moliceiros, sailing on a holiday, with sails unfurled. The "festa" [party] refers to two contexts, parallel in reality: the tradition of popular festivities, "folk", with their "folklore groups" of dancers, and also the tradition of regattas of moliceiros, which one the latest to be built and (re) constructed. An increasing number of panels associate the notion of "festa" to the boat moliceiro itself because its authors understand that what had once been a simple means of transport folkloric groups of “folgazões” and dancers is now the protagonist of that party . A festive celebration of moliceiro is illustrated in social panels about "Events and Ceremonies" of the late nineties and early twenty-first century, such as "Eu tamén vou na regata" (with mascot Expo98 - Gil - joining the celebration ), "Viva a nossa festa", "Festa na Beira da Ria bira Manel e bira aria”, "Viva a festa de S. Paio", "Festas da Ria... 2001", "Vou para a Festa da Ria", "567 anos da Feira de Março", "A nossa linda Ria está em festa", "É a festa da nossa Ria" or "Vira Maria que há festa na Ria". Thus, the moliceiro celebrates everything (the race, Ria Festival, March Fair, S. Paio) because he is also celebrated in all those moments as a symbol of the region. There are, however, no panels about the panels competition itself.
The perception of the equity value of moliceiro underlies many of the panels with "Ecological Appeals and Heritage Celebration" ("Não acabar a tradição", "A tradição continua", "Não deixarei a tradição morrer", "Moliceiro primeiro barco histórico", "Moliceiros não acabem com esta linda tradição"), illustrated with beautiful pictures of moliceiros and/or panels with detailed decorations. Builders and painters are also evoked, as essential agents for the creation and preservation of the heritage in social panels called "Master fishmongers, boaters and painters", like: "Sou carpinteiro naval”, “vou-te devoler a juventude” (about A2040-M, built by Agostinho Tavares in 1985 and restored by Antonio Esteves in 2001), "Nobre arte a de pintor”, “O começo dum barco”, “Sou o rei das pinturas” and many others, which simply record the name of master or yard (as is the case with AMIRIA, with lavish praises to itself), making use of the traditional image of the knight or the aristocrat.
There is thus a direct link between moliceiro panels and all actors in the events that celebrate it. There is a representation of the actual festive moments, builders and other agents, rooted in the meta-referential representation of the moliceiro itself. Certain panels accept and reproduce until all threads that have guided the ideological discourse of the press and the authorities: the need to celebrate and preserve the tradition, although such panels are already in itself an innovation in tradition.
Aware of representativeness and equity value and symbolic of its vessels, the builders and owners of moliceiros are now currently pursuing the mission initiated by local authorities in the fifties and which for a long time only the monetary awards made them join. Now, they actively participate in this process, for economic reasons and no longer ideological, exploring the aesthetics inherent to moliceiro boat, which is the basis of its recovery, maintenance and profitable operation.
English to Portuguese: Legal Test General field: Law/Patents Detailed field: Law: Contract(s)
Source text - English LEGAL TEST
1. GRANT OF RIGHTS.
Grant of License. Subject to the terms and conditions of this Agreement, GH hereby grants to Licensee a nonexclusive, nonsublicensable, nontransferable license to install and use the number of Software Copies on the machines as set forth on the Attachment(s) hereto.
2. WARRANTY AND DISCLAIMER.
Except as expressly provided herein, GH LICENSES THE SOFT¬WARE TO LICENSEE ON AN "AS IS" BASIS. GH MAKES NO OTHER WARRANTY OF ANY KIND, WHETHER EXPRESS, IMPLIED, STATUTORY, OR OTHERWISE INCLUDING WITHOUT LIMITATION THE IMPLIED WARRANTIES OF MERCHANTABILITY, FITNESS FOR A PARTICULAR PURPOSE, AND NONINFRINGEMENT.
3. TERMINATION.
Each party may terminate this Agreement on a thirty (30) days written notice to the other party.
GH may terminate the Agreement immediately by sending a written notice to Licensee if any of the following events occur: (i) Licensee is in material breach of any term, condition, or provision of this Agreement which breach is not cured within thirty (30) days after GH gives Licensee notice of such breach, except for a breach of Section 1 or Section 6 of this Agreement which shall result in an immediate termination; or (ii) Licensee terminates or suspends its business, becomes subject to any bankruptcy or insolvency proceeding under federal or state statutes, or becomes insolvent or subject to direct control by a trustee, receiver or similar authority.
4. SEVERABILITY.
If any provision of this Agreement is held by a court of competent jurisdiction to be contrary to law, such provision shall be changed and interpreted so as to best accomplish the objectives of the original provision to the fullest extent allowed by law and the remaining provisions of this Agreement shall remain in full force and effect.
Translation - Portuguese CRITÉRIO JURÍDICO
1. CONCESSÃO DE DIREITOS.
Concessão de Licença. Sujeito aos termos e condições deste Contrato, a GH concede pelo presente ao Detentor da Licença uma licença não exclusiva, não sub-licenciável e não transmissível para instalar e utilizar o número de Cópias do Software nos equipamentos, conforme determinado no(s) Anexo(s) ao presente Contrato.
2. GARANTIA E ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE.
Salvo determinação expressa, A GH CONCEDE A LICENÇA AO UTILIZADOR NUMA BASE DE "TAL COMO SE APRESENTA". A GH NÃO FORNECE QUALQUER OUTRO TIPO DE GARANTIAS, SEJAM EXPRESSAS, IMPLÍCITAS, LEGAIS OU INCLUINDO, ENTRE OUTRAS, AS GARANTIAS IMPLÍCITAS DE COMERCIALIZAÇÃO, ADEQUAÇÃO A UM DETERMINADO FIM E NÃO-INFRACÇÃO.
3. RESCISÃO.
Cada uma das partes pode rescindir este Contrato através da notificação por escrito à outra parte, com até trinta (30) dias de antecedência.
A GH pode rescindir imediatamente o presente Utilizador através da notificação por escrito ao Utilizador caso ocorra o seguinte: (i) O Utilizador encontra-se em incumprimento de um qualquer cláusula, condição ou disposição deste Contrato cuja infracção não seja retificada no prazo mínimo de trinta (30) dias após a GH o notificar da mesma (excepto para infracções das Secções 1 ou 6 deste Contrato, que resultam na sua rescisão imediata); ou (ii) o Utilizador cessa ou suspende a sua actividade, torna-se alvo de um qualquer processo de falência ou insolvência conforme a legislação em vigor, ou declara insolvência ou fique sujeito ao controlo directo de um elucidário, mandatário ou outra autoridade semelhante.
4. INDEPENDÊNCIA DAS DISPOSIÇÕES CONTRATUAIS.
Se uma qualquer disposição do presente Contrato for declarada por um tribunal com jurisdição competente como sendo contrária à lei, a mesma deve ser alterada e interpretada de forma a melhor cumprir com os objectivos da disposição original dentro da máxima extensão permitida por lei e as restantes cláusulas do presente Contrato devem permanecer em pleno vigor e efeito.
English to Portuguese: Certificate of Incorporation on Change of Name General field: Law/Patents Detailed field: Law: Contract(s)
Source text - English CERTIFICATE OF INCORPORATION ON CHANGE OF NAME
Company No. 222222
The Registrar of Companies for England and Wales hereby certifies that
ABCBA INSURANCE COMPANY LIMITED
Having by special resolution changed its name, is now incorporated under the name of
DFFD INSURANCE LIMITED
Given at Companies House, Cardiff, the 1st March 2000.
For The Registrar of Companies
1.
Translation - Portuguese CERTIDÃO DE CONSTITUIÇÃO COM MUDANÇA DE RAZÃO SOCIAL
Empresa nº 222222
A Conservatória do Registo Comercial para Inglaterra e País de Gales certifica que
ABCBA INSURANCE COMPANY LIMITED
tendo por especial resolução alterado o seu nome, é agora incorporada sob o nome
DFFD INSURANCE LIMITED
Redigido na Companies House, Cardiff, 1 de março de 2000.
Para a Conservatória do Registo Comercial
1.
English to Portuguese: Power of Attorney General field: Law/Patents Detailed field: Law: Contract(s)
Source text - English POWER OF ATTORNEY
By this POWER OF ATTORNEY given on the 15th day of May, two thousand and two by C. T. CO. LIMITED, a company registered in Gibraltar under registration number ______ having its registered office at_______, Gibraltar hereinafter called "the Company", hereby appoints M_____, divorced, resident at ____ , bearer of Identity Card No. ____, issued at Lisboa, to be the true and lawful representative of the Company, or to appoint for and in the name of and on behalf of the Company, to do or execute, all and any of the acts hereinafter mentioned that is to say:-
1. To represent the Company before any Financial Government Office and in general before any tax and/or customs authority and to do, apply for and sign all things necessary to comply to the Company`s rights and obligations under the Tax and Customs Legislation in force, namely to sign and render all and any declarations and to represent the Company before banks and other financial entities, open, close, and operate Bank accounts.
2. To represent the Company before any official authorities, namely Banco de Portugal, Registrars, Instituto Nacional da Propriedade Industrial (National Institute of Industrial Property) and in general before all and any central or local administration and to do, apply for and sign all things necessary to the development of the Company's activity namely to apply for any commercial, land or car registers, provisional or definite, and to obtain any licences or authorisations whatsoever in connection to the business of the Company.
3. To receive any values or documents of the company or to which the Company is entitled to, whichever its nature or provenance, issuing the corresponding receipts and acquaintance.
4. To give or take lease of all kinds of movable or immovable property, under the terms that may seem convenient and to alter or cease in any way the respective contracts.
5. To buy, acquire by leasing, sell, exchange, assign, or otherwise acquire, deal with and turn to account any movable or immovable property, including motorcars and stocks or shares in any company.
6. To sign the public documents of increasing or reduction of authorised capital or any other public deeds modifying the memorandum and articles of association of the Company, subject to the terms or previous resolution passed by the shareholders under the provisions of the law.
7. To negotiate, sign and enter into any contracts necessary or convenient to the development of the Company's object.
8. In general to do, apply for and sign all things necessary, adequate or convenient to meet the above conferred powers.
AND IT IS HEREBY DECLARED that:
(i)…
IN WITNESS whereof the Company has caused its Common Seal to be affixed hereto the day and year first before written.
THE COMMON SEAL of C. T. CO. 20 LIMITED
was affixed hereto in the
presence of:-
(signature) Director
(signature) Secretary
Translation - Portuguese PROCURAÇÃO
De acordo com a presente PROCURAÇÃO, emitida a 15 de maio de dois mil e dois pela C. T. CO. LIMITED, empresa registada em Gibraltar com o número ______ e sede registada em _______, Gibraltar, de aqui em diante designada "a Empresa", designa M_____, divorciado, residente em ____ , portador do Cartão de Cidadão nº ____, emitido em Lisboa, como sendo o real e legítimo representante da Empresa, para nomear em favor, por intermédio e em nome da empresa, para fazer e executar todos e quaisquer actos a seguir mencionados, como sejam:
1. Representar a Empresa diante de uma qualquer Repartição de Finanças e, de uma maneira geral, diante de uma qualquer autoridade fiscal e/ou aduaneira, e para fazer, aplicar e assinar tudo o que seja necessário para a concordância dos direitos e obrigações da Empresa com a Legislação Fiscal em vigor, nomeadamente para assinar e possibilitar todas e quaisquer declarações, e para representar a Empresa diante de bancos e outras entidades financeiras (abertas ou fechadas) e operar contas bancárias.
2. Representar a Empresa diante de qualquer autoridade oficial, nomeadamente o Banco de Portugal, Conservadoras, Instituto Nacional da Propriedade Industrial e, em geral, diante de todas e quaisquer órgãos de administração centrais e locais e fazer, aplicar e assinar tudo o que seja necessário para o desenvolvimento da actividade da Empresa, nomeadamente para aplicação a fins comerciais, registos de propriedade e de viaturas (provisórios ou definitivos), e para obtenção de licenças ou autorizações relacionadas com a actividade da Empresa.
3. Receber quaisquer valores ou documentos da Empresa ou aos quais a Empresa tem direito, qualquer que seja a sua natureza ou proveniência, emitindo os respectivos recibos e reconhecimento.
4. Ceder ou arrendar todos os tipos de propriedade móvel ou imóvel, nos termos que pareçam convenientes e que alterem ou cessem, de alguma maneira, os respectivos contratos.
5. Comprar, adquirir por locação, vender, trocar, atribuir ou adquirir, negociar e tirar partido de qualquer propriedade móvel ou imóvel, incluindo veículos e acções de uma qualquer empresa.
6. Assinar documentos públicos de aumento ou redução do capital autorizado ou quaisquer outras escrituras públicas que alterem o memorando e artigos de associação da Empresa, sujeitos aos termos ou resoluções prévias determinadas pelos accionistas, segundo as provisões da lei.
7. Negociar, assinar e iniciar quaisquer contratos necessários ou convenientes para o desenvolvimento do objecto da Empresa.
8. Em geral, executar, aplicar e assinar tudo o que seja necessário, adequado ou conveniente para ir ao encontro dos poderes acima concedidos.
E AQUI SE DECLARA que:
(i)…
EM TESTEMUNHO de que a Empresa apôs o seu Carimbo neste documento no dia e ano inicialmente mencionados.
CARIMBO da C. T. CO. 20 LIMITED
foi aqui aposto na
presença de:
(assinatura) Director
(assinatura) Secretário
Spanish to Portuguese: Juzgado de Menores núm. 1. Sentencia de 18 noviembre 2003 General field: Law/Patents Detailed field: Law (general)
Source text - Spanish Juzgado de Menores núm. 1.
Sentencia de 18 noviembre 2003
JUR200421175
ROBO: Con violencia o intimidación en las personas: existencia: sustracción de bolso por el procedimiento del «tirón».
En la Ciudad de Granada, a 18 de noviembre de 2003. El litmo. Sr.. Emilio Calatayud Pérez, Magistrado Juez del juzgado de Menores de Granada y su provincia, ha visto en fase de Audiencia, las diligencias n° 572/02 con asistencia del Representante del Ministerio Fiscal, miembros del Equipo Técnico de Apoyo de este Juzgado, así como de los menores Javier L. M., Alonso R. M., José María D. S. y Alberto David F. M. acompañados de sus representantes legales y asistidos de los letrados Dª. Manuela Posadas Pérez, Dª Mari Paz Ruíz Bolaños y D. Pablo Rodríguez Martín.
ANTECEDENTES DE HECHO
PRIMERO: Las presentes diligencias fueron incoadas con fecha 8 de noviembre de 2003, procedentes del Expediente de Fiscalía n° 534/02, en las que aparecen encartados los menores anteriormente citados por un presunto delito de Robo con Violencia e intimidación.
SEGUNDO: El Equipo Técnico de Apoyo, cumpliendo lo dispuesto en el artículo 27,5 y 37 de la Ley Orgánica 5/2000, emite informe sobre la situación psicológica, educativa, familiar de los menores,
proponiendo como medida un servicio en beneficio de la comunidad durante 200 horas para Javier, José María y Alberto; y un año de libertad vigilada para Alonso.
TERCERO: Con fecha 6 de febrero de 2003 se recibe en este Juzgado Expediente de Fiscalía, con el escrito de alegaciones correspondiente. Seguidamente se da traslado del mismo a la defensa quien en tiempo y forma lo contesta, no mostrándose conforme con lo solicitado por el Ministerio Fiscal. Posteriormente se dicta Auto por el que se decreta la apertura de la Audiencia, declarándose la pertinencia de las pruebas propuestas y citando a la celebración de la misma a las partes de conformidad con lo dispuesto en el art. 35.
CUARTO: Con fecha 18 de noviembre de 2003, se celebró la Audiencia de conformidad con lo dispuesto en los artículos 31 y sigs de la LO 5/2000. El M. Fiscal califica los hechos, como constitutivos
de un delito de robo con Violencia e intimidación del art. 242.1 CP. Solicitando se imponga a los menores las medidas de un servicio en beneficio de la comunidad durante 200 horas a desarrollar en el programa de inmigrantes de Cruz Roja para Javier, José María y Alberto; y un año de libertad vigilada para Alonso Vigilada; de conformidad con lo dispuesto en el art. 7 de la L.O. 5/2000
QUINTO: De conformidad con lo dispuesto en el art. 36, una vez informados los menores en lenguaje claro y comprensible de la medida solicitada por el M. Fiscal en su escrito de alegaciones, así como de los hechos y de la causa en que se fundan, ellos mismos se declaran autores de los hechos y muestran su conformidad con la medida solicitada.
HECHOS PROBADOS
Los cuatro menores, puestos previamente de acuerdo, con unidad de acción de propósito y acción sobre las 19:40 horas del día 14 de octubre del 2002, se dirigieron a bordo de 2 ciclomotores a Ángeles
Nieves G. A., que caminaba por la Avenida Nicaragua de la Localidad de Salobreña, y de un fuerte tirón le arrebataron el bolso que portaba y que contenía efectos tasados pericialmetne en 158,34 € y 1332,18€ en efectivo. Con posterioridad a los hechos, fue recuperado y entregado a su propietaria 1.240 € en efectivo y el resto de efectos a excepción del teléfono móvil tasado en 90 €.
FUNDAMENTOS DE DERECHO
PRIMERO.- El art.36 de la Ley Orgánica 5/2000 establece que si el menor se declarase autor de los hechos que le imputa el Fiscal y así mismo se mostrase conforme con la medida solicitada, "El Juez
podrá dictar acuerdo de conformidad", una vez oído el letrado del menor.
SEGUNDO: En el presente caso, efectivamente nos encontramos ante unos hechos que son constitutivos de un delito de Robo con Violencia toda vez que realiza la sustracción con ánimo de lucro,
de un bolso empleando violencia esto es como tiene declarada reiterada jurisprudencia del T. S. "Constituye violencia a una persona toda acción o ímpetu de fuerza que se realice sobre ella para vencer la resistencia natural que oponga a la desposesión", entendiendo el procedimiento del "tirón" como una manifestación típica del robo con violencia, lo que sucede en el presente caso. Todo ello reconocido por el propio menor y perfectamente tipificado por el M. Fiscal.
TERCERO.- El Juez de Menores no podrá imponer una medida que suponga una mayor restricción de derechos ni por un tiempo superior a la medida solicitada por el Ministerio Fiscal Art.8, 1 y el art. 7. 3 L.O. 5/2000 establece que "Para la elección de la medida o medidas adecuadas, tanto por el Ministerio Fiscal y el Letrado del Menor en sus postulaciones como por el Juez en la sentencia, se deberá atender de modo flexible, no sólo a la prueba y valoración jurídica de los hechos, sino especialmente a la edad, las circunstancias familiares y sociales, la personalidad y el interés del menor Javier posee un núcleo familiar normalizado, el graduado escolar y se encuentra matriculado en la casa de oficios. Alonso incumple las normas familiares, tiene dificultades de adaptación personal, familiar y social y está realizando un programa de garantía social. José maría presenta una situación familiar y
social está normalizada; está matriculado en el primer curso de ciclo formativo de grado medio. Alberto David, tiene una familia monoparental por fallecimiento del padre y respeta la autoridad materna, está realizando un programa de garantía social.
Por lo anteriormente expuesto y siendo ésta ajustada a derecho, procede dictar una sentencia en los mismos términos interesados por el representante del Ministerio Publico, que ha tenido en cuenta las distintas circunstancias que rodean a los menores valorando para su petición el interés especial de éstos. Todo ello sin perjuicio de la posibilidad que contempla el art. 14 L.O. 5/2000 " El Juez de oficio o a instancia del M. Fiscal o del letrado del menor, previa audiencia de estos e informe del equipo técnico y en su caso de la entidad publica de protección o reforma de menores, podrá en cualquier momento dejar sin efecto la medida impuesta, reducir su duración o sustituirla por otra, siempre que la modificación redunde en el interés del menor y se exprese suficientemente a éste el reproche merecido por su conducta", en relación con el art. 51 del mismo cuerpo legal.
Vistos los preceptos legales citados y demás de pertinente y general aplicación
FALLO
Que debo resolver y resuelvo imponer a los menores Javier L. M., Alonso R. M., José María D. S. y Alberto David F. M. las medidas de un servicio en beneficio de la comunidad durante 200 horas a desarrollar en el programa de inmigrantes de Cruz Roja para Javier, José María y Alberto; y un año de libertad vigilada para Alonso Vigilada, como autor de un hecho que de ser mayor sería constitutivo de un Delito de Robo con Violencia e Intimidación.
Notifíquese esta Resolución al Ministerio Fiscal, así como al menor y su representante legal y al denunciante y/o perjudicado. Contra la presente sentencia no cabe recurso de conformidad con lo dispuesto en el art. 975 LECr. Declarándose firme la presente resolución a tenor de lo previsto en el art. 988 LECr, en relación con el art.141 de la misma.
Notifíquese a la Entidad Pública competente.
Así Juzgando en Primera Instancia, lo Resuelvo, mando y firmo.
Translation - Portuguese Tribunal de Menores nº 1.
Julgamento de 18 Novembro de 2003
JUR200421175
FURTO: Com violência ou intimidação de pessoas: existência: subtracção de carteira pelo método de "esticão".
Na cidade de Granada, a 18 de Novembro de 2003. O Exmo. Sr.. Emilio Calatayud Pérez, juiz magistrado do Tribunal de Menores de Granada e respectiva província, analisou, na fase de Audiência, as diligencias n° 572/02, com o apoio do Representante do Ministério Público, membros da Equipa de Apoio Técnico a este Tribunal, assim como com os menores Javier L. M., Alonso R. M., José María D. S. e Alberto David F. M., acompanhados dos seus representantes legais e apoiados pelos advogados dr.ª Manuela Posadas Pérez, dr.ª Mari Paz Ruíz Bolaños e dr.. Pablo Rodríguez Martín.
FACTOS
PRIMEIRO: As diligências presentes foram invocadas com data de 8 de Novembro de 2003, procedente do Expediente de Acusação n° 534/02, nas quais os menores citados anteriormente surgem acusados de um presumível delito de Roubo com Violência e Intimidação.
SEGUNDO: A Equipa de Apoio Técnico, cumprindo com o disposto no artigo 27,5 e 37 da Lei Orgânica 5/2000, emite o relatório relativo à situação psicológica, educativa e familiar dos menores, propondo, como medida a aplicar, a execução de um serviço de 200 horas em benefício da comunidade para Javier, José María e Alberto, e um ano de liberdade condicional para Alonso.
TERCEIRO: Este Tribunal acusa a recepção do Relatório da Acusação na data de 6 de Fevereiro de 2003, com as alegações escritas correspondentes. Seguidamente, dá-se o envio do mesmo à defesa, que o contesta em tempo e forma, não se mostrando de acordo com o solicitado pelo Ministério Público. Posteriormente, dita-se o Auto pelo qual se decreta a abertura da Audiência, declarando-se a pertença das provas propostas e citando a celebração da mesma às partes, em conformidade com o disposto no art. 35.
QUARTO: No dia 18 de Novembro de 2003, realizou-se a Audiência, em conformidade com o disposto nos artigos 31 e seguintes da LO 5/2000. O Ministério Público qualifica os factos de constitutivos de um delito de Roubo com Violência e Intimidação. do art. 242.1 CP. Solicitando que se imponha aos menores as medidas de um serviço em benefício da comunidade durante 200 horas, a desenvolver no programa de imigrantes da Cruz Vermelha, para Javier, José María e Alberto, e um ano de liberdade condicional para Alonso Vigilada, em conformidade com o disposto no art. 7 da L.O. 5/2000
QUINTO: Em conformidade com o disposto no art. 36, uma vez informados os menores, em linguagem clara e compreensível, da medida solicitada pelo Ministério Público nas suas alegações escritas, assim como dos factos e da causa na qual se fundamentam, os mesmos declaram-se autores dos factos e mostram concordância com a medida solicitada.
FACTOS PROVADOS
Os quatro menores, em mútuo acordo prévio, com união de propósito e acção, dirigem-se em 2 ciclomotores, pelas 19h40 do dia 14 de Outubro de 2002, a Ángeles Nieves G. A., que caminhava pela Avenida Nicaragua, da localidade de Salobreña, e, com um forte esticão, arrebataram-lhe a carteira que transportava e que continha bens, avaliados pericialmente, em 158,34€ e 1332,18€, em dinheiro líquido. Posteriormente aos factos, foi recuperado e entregue à sua proprietária 1.240€ em dinheiro líquido e restantes bens, à excepção de um telefone móvel avaliado em 90€.
FUNDAMENTOS DO DIREITO
PRIMERO: O art. 36 da Lei Orgânica 5/2000 estabelece que se o menor se declara autor dos factos que lhe são imputados pelo Procurador e se mostrar concordante com a medida de coação solicitada, "o Juiz pode determinar um acordo de conformidade", uma vez ouvido o advogado do menor.
SEGUNDO: No presente caso, encontramos-nos efectivamente perante factos constitutivos de um delito de Roubo com Violência cada vez que se realiza a subtracção, com o intuito de lucro, de uma carteira aplicando violência, como reiterado na declaração de jurisprudência do T. S.. "Constitui violência a uma pessoa toda a acção ou ímpeto de força que sobre ela se realize para vencer a resistência natural que se opõe à desapropriação", considerando-se o procedimento de "esticão" uma manifestação típica de roubo com violência, o que sucede no presente caso. Tudo isto reconhecido pelo próprio menor e perfeitamente tipificado pelo Ministério Público.
TERCEIRO: O Juiz de Menores não poderá impor uma medida que pressuponha uma maior restrição de direitos nem por tempo superior à solicitada pelo Ministério Público, segundo o art. 8, 1 e o art. 7. A L.O. 5/2000 estabelece que "para a eleição da medida ou medidas adequadas, tanto pelo Ministério Público e Advogado do Menor nas suas postulações como pelo Juiz na sentença, deve ter-se em conta, de modo flexível, não só a prova e valorização jurídica dos factos como, especialmente, a idade, circunstâncias familiares e sociais, personalidade e interesse do menor. Javier possui um núcleo familiar normalizado, ensino básico concluído e encontra-se a frequentar um curso de formação profissional. Alonso não cumpre as normas familiares, tem dificuldade de adaptação pessoal, familiar e social, e está a frequentar um programa de inserção social. José María apresenta uma situação familiar e social normalizadas, e está matriculado no nono ano. Alberto David tem uma família monoparental, por falecimento do pai, e respeita a autoridade materna, estando a frequentar um programa de inserção social.
Pelo exposto anteriormente e sendo esta ajustada ao direito, procede ditar-se uma sentença nos termos de interesse do representante do Minstério Público, que teve em conta as diferentes circunstâncias que rodeiam estes menores, valorizando o especial interesse destes na sua petição. Tudo isto sem prejuízo da possibilidade contemplada no art. 14 da L.O. 5/2000: "o Juiz em funções, a instância do Ministério Público ou o advogado do menor, após audiência prévia com os mesmos e respectiva notificação da Equipa Técnica e, se tal for o caso, da entidade pública de protecção de menores, poderá em qualquer momento deixar sem efeito a medida imposta, reduzir a sua duração ou substituí-la por outra, sempre que dessa modificação advenha o interesse do menor e se expresse suficientemente bem a este a repreensão merecida pela sua conduta", relativo ao art. 51 do mesmo corpo legal.
Analisados os preceitos legais citados e de aplicação pertinente e geral
SENTENÇA
Devo decidir e decido impor aos menores Javier L. M., Alonso R. M., José María D. S. e Alberto David F. M. as medidas de um serviço em benefício da comunidade durante 200 horas, a desenvolver no programa de imigrantes da Cruz Vermelha para Javier, José María e Alberto, e um ano de liberdade condicional para Alonso Vigilada, como autor de crime que, caso fosse um maior, constituiria um Delito de Roubo com Violência e Intimidação.
Notifique-se o Ministério Público sobre esta Resolução, bem como o menor e respectivo representante legal e o denunciante e/ou lesado. A presente sentença não é passível de recurso, conforme o disposto no art. 975 LECr. Declarando-se determinada a presente resolução, conforme previsto no art. 988 LECr, em relação com o art. 141 da mesma.
Notifique-se a Entidade Pública competente.
Assim julgado em Primeira Instância, decido, ordeno e assino.
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Translation education
Bachelor's degree - ISCAP - School of Accounting and Administration of Porto
Experience
Years of experience: 14. Registered at ProZ.com: Apr 2012.
Portuguese to English (Cambridge University (ESOL Examinations)) English to Portuguese (Cambridge University (ESOL Examinations)) French to Portuguese (Portugal: ISCAP) English to Spanish (Portugal: ISCAP) Portuguese to Spanish (Portugal: ISCAP)
French to English (Portugal: ISCAP) Spanish to English (Portugal: ISCAP) Spanish to Portuguese (Portugal: ISCAP) French to Spanish (Portugal: ISCAP)
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Freelance translator with 3 years of experience in several technical fields.
Education
* Master's Degree: Specialized Translation and Interpreting (ISCAP - School of Accounting and Administration of Porto);
* Bachelor's Degree: Administrative Assistance and Translation (ISCAP - School of Accounting and Administration of Porto).
* IP 2012 - "Systèmes juridiques et droit des immigrès dans l'UE: Traduire et interpréter dans la diversité" (Bucharest, Romania), in 2012;
* IP 2013 - "Systèmes juridiques et droit des immigrès dans l'UE: Traduire et interpréter dans la diversité" (České Budějovice, Czech Republic), in 2013.
* IP 2014 - "Systèmes juridiques et droit des immigrès dans l'UE: Traduire et interpréter dans la diversité" (Porto, Portugal), in 2014.
Published Translations
* Diálogos Interculturais - Os Novos Rumos da Viagem, Vida Económica, in 2011 [ISBN: 978-972-788-413-1];
* In Permanent Transit: Discourses and Maps of the Intercultural Experience, Cambridge Scholars, in 2012 [ISBN: 978-1-4438-4069-9];
* Entre Margens e Centros: Textos e Práticas das Novas Interculturas, Afrontamento, in 2013 [ISBN: 978-972-36-1325-4].